Folha de S. Paulo


Pesquisa mapeia história da indústria editorial no Brasil

A indústria editorial de livros no Brasil experimentou nos últimos anos um forte período de crescimento, mas se depara agora com problemas que podem colocar em risco sua longevidade.

O levantamento, coletado pelo instituto de pós-graduação e pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Coppead, será divulgado na próxima quarta (dia 21) na sede do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), no Rio.

A reconstituição sobre o desenvolvimento histórico do livro no Brasil começa em 1808, com a chegada da família real, e vai até os dias atuais.

Nesses 200 anos anos, informa a pesquisa, foram muitos os entraves ao crescimento da indústria: censura, disponibilidade de papel, impostos, câmbio, inflação descontrolada, baixa escolaridade da população.

As últimas décadas, contudo, trouxeram uma série de alavancas que impulsionaram o setor, notadamente a informatização, o aumento da renda da população, a isenção de impostos e os programas de compra de livros pelo governo.

O mercado mais robusto, de acordo com a pesquisa, também deixou mais evidente as fragilidades do setor.

"A maior parte de livrarias e editoras não consegue criar disciplina para aprender sistematicamente com suas falhas e sucessos", afirma o relatório elaborado por Denise Fleck, coordenadora da pesquisa e professora do Coppead/UFJF.

"A carência de informação e/ou análise sobre compradores e leitores, sobre o desempenho de títulos bem ou mal sucedidos e sobre a eficácia de estratégias passadas de produção, dificulta o processo de aprendizado."

Além disso, a pesquisa aponta a ausência de integração entre os diferentes elos da cadeia produtiva.

"A falta de sistemas que integrem a comunicação entre editoras, livrarias e distribuidores impede a verificação da disponibilidade e prazo dos livros nas livrarias, gerando falhas de comunicação e erros."

O estudo salienta ainda que a entrada da Amazon e do Google no mercado de livros no Brasil, embora possa provocar a extinção de livrarias, pode ajudar a disseminar novas sementes de crescimento. "Essas empresas são capazes de aprender continuamente com 'erros e acertos', buscam conhecer os compradores e leitores que frequentam seus
sites, e têm gestão sobre a troca de informação com seus fornecedores (editoras)."

Para as grandes empresas da área (editoras e livrarias), o texto aponta a dificuldade de manter o foco, "a manutenção de consistência de suas identidade e posicionamentos", à medida que crescem e expandem sua linha de atuação.

Para as pequenas livrarias, recomenda duas alternativas para se manterem relevantes: aprofundar a seleção (conhecer melhor os compradores os compradores e leitores para aprimorar o mix de produtos disponíveis) e a transformação das lojas em espaços de cultura e entretenimento.

"Talvez seja preciso criar um espaço suficientemente interessante para fazer com que o potencial leitor ou comprador opte por se deslocar até a livraria no lugar de comprar o livro pelo e-reader ou pelo computador", diz um dos trechos.

Às pequenas editoras também é aconselhado criar algum tipo de diferencial nos livros que edita, para despertar o interesse tanto dos leitores quanto das livrarias.

O risco para elas é perder alguns de seus autores para a autopublicação digital.

"Nesse cenário, as editoras pequenas precisam ter mais foco na escolha de estratégias de publicação que lhes permitam de alguma forma continuar atraindo autores de qualidade em velocidade superior à daqueles que deixam a editora. A diversificação para outros negócios relacionados à atividade da editora, como prestação de serviço de apoio para autopublicação consiste em uma alternativa de capturar mais valor, aproveitando melhor sua estrutura e habilidades editoriais."


Endereço da página: