Folha de S. Paulo


Vencedor do Pritzker, Shigeru Ban vai construir na Amazônia

Toneladas de madeira apreendida na Amazônia pelo Ibama podem virar arquitetura pelas mãos do japonês Shigeru Ban, 56, que em março ganhou o prêmio Pritzker, o Nobel das pranchetas.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, Ban vai assinar no fim deste mês uma parceria que visa construir postos para visitantes e pesquisadores nos parques nacionais amazônicos e, depois, torres de observação e escolas para as populações locais.

"Fiquei louco pela Amazônia", disse o arquiteto à Folha. "Adoro madeiras, então essa oportunidade é um sonho virando realidade", afirma Ban, que, quando criança, queria ser carpinteiro.

Conhecido pelo uso de estruturas de tecido e outros materiais atípicos na construção de prédios, o japonês também já usou tubos de papel e bambu em abrigos e escolas nas áreas devastadas pelo tsunami no Sudeste Asiático, em 2004, e para as vítimas do terremoto de Sichuan, na China, em maio de 2008.

Ainda que utilize materiais "reciclados", ele diz ser "um ambientalista acidental". Em setembro, o arquiteto planeja voltar ao Brasil para visitar o Jardim Botânico do Rio, que vai passar por uma reforma, e retornar à Amazônia.

Há dois parques que estão na mira do japonês: o de Anavilhanas, no Amazonas, e o Parque Nacional da Amazônia, localizado às margens do rio Tapajós, no Pará, onde também pretende trabalhar.

Ele conta que esteve três vezes no Brasil, mas jamais construiu uma obra no país.

Depois de dar palestra no evento Arq.Futuro e de participar da conferência Rio+20, ambos em 2012, o arquiteto voltou ao Brasil no ano passado para um seminário sobre o uso de madeiras.

Na ocasião, ele pôde, finalmente, viajar para a Amazônia com a mulher. Eles foram acompanhados por uma equipe do Laboratório de Produtos Florestais do ministério, que estuda as possibilidades construtivas e medicinais da floresta.

"Desde 2011 discutimos o que fazer com tanta madeira apreendida", conta a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Normalmente, a madeira é leiloada, mas há várias denúncias segundo as quais quem desmata compra o próprio material derrubado.

No ano passado, 200 mil m³ de madeira foram apreendidos. O suficiente, segundo o ministério, para construir 15 mil casas de dois quartos, como as que existem em comunidades amazônicas.

"Shigeru Ban veio para a Rio+20 e o embaixador André Corrêa do Lago, que era o negociador brasileiro na conferência, nos apresentou", relembra a ministra.

"Na hora, vi que tínhamos uma grande oportunidade de inclusão social e consciência ambiental. Aprender com um mestre, treinar populações locais, dar um bom uso à madeira e fazer boa arquitetura."

Ela diz que está buscando financiamento "totalmente privado" para conseguir levantar as primeiras obras do japonês no Brasil.

Um pequeno time de especialistas em madeira já se formou, com a designer Claudia Moreira Salles, o arquiteto Bernardo Jacobsen, que trabalhou com Ban no Japão, e o engenheiro Helio Olga Jr. Ela também diz que quer conversar com o Instituto de Arquitetos do Brasil, o IAB.

"A Câmara Brasileira de Construção Civil já manifestou interesse em patrocinar, mas também acho que haverá interesse de grandes empresas", diz Teixeira. "Esse prêmio para o Ban veio em boa hora. Agora, todo mundo conhece", completa.

O arquiteto discorda. "Ganhar o Pritzker foi uma honra, mas sinto que foi muito cedo", conta. "Ainda não cheguei no nível de arquitetura para isso. O prêmio serve para eu continuar a fazer o que faço, não para mudar."


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