Folha de S. Paulo


Titãs misturam 'Cabeça Dinossauro' e 'Titanomaquia' em álbum de inéditas

Os Titãs gravaram "Nheengatu" com duas propostas: produzir um álbum de rock acelerado com pitadas de ritmos brasileiros e mostrar uma nova formação da banda. As duas foram concretizadas.

O primeiro disco de inéditas desde "Sacos Plásticos", de 2009, é um álbum de rock pesado, que parece uma mistura de "Cabeça Dinossauro" (1986) e "Titanomaquia" (1993). A brasilidade aparece sutil, entre as guitarras rápidas e vocais guturais.

Quanto à nova formação, ela se faz notar mesmo que a banda seja hoje um quarteto com integrantes que fundaram os Titãs há 32 anos.

Veja vídeo

Assista ao vídeo em tablets e celulares

Sérgio Britto, 54, explica que Paulo Miklos, 55, e Branco Mello, 52, assumiram respectivamente guitarra e baixo. Tony Bellotto, 53, permanece na guitarra solo.

"Essa formação é nova, vem amadurecendo. A gente fez uma escola com uma turnê dos 25 anos do 'Cabeça Dinossauro' e depois mostramos essas novas músicas no show 'Inédito', no ano passado", conta Britto.

Miklos destaca que tocar ao vivo antes de gravar foi bom para "sacar a mecânica dos arranjos, conviver com o repertório". Para Branco, foi um desafio colocar dez músicas inéditas em um único show. "Principalmente para uma banda com tantos anos, porque o público quer ouvir as antigas."

A turnê do "Cabeça Dinossauro" talvez tenha influência nas letras do novo disco, que são "polaroides" —expressão de Britto— sobre o Brasil de hoje, com versos virulentos.

Sobre "Pedofilia", candidata a música mais polêmica do álbum, Bellotto afirma que, como todas, tem que dar certo como canção, para não ficar apenas panfletária.

A música "República dos Bananas" tem entre seus autores o cartunista Angeli. Britto acredita que essa faixa e "Chegada ao Brasil (Terra à Vista)" dão "um colorido" ao disco, com humor.

Miklos fala de uma tira antiga de Angeli, do tempo em que os Titãs começavam a carreira, que tinha o personagem Bob Cuspe diante de um cartaz de show da banda. "Para nós foi o máximo, a gente pirou com isso!"

Raquel Cunha/Folhapress
A partir da esq., Paulo Miklos, Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto, dos Titãs, no bar paulistano Astor
Da esq., Paulo Miklos, Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto, dos Titãs, no bar paulistano Astor

*

'NHEENGATU', FAIXA A FAIXA

1. "Fardado"
De volta ao som do álbum "Titanomaquia", mas a letra faz ponte com "Polícia", do "Cabeça Dinossauro".

2. "Mensageiro da Desgraça"
Quase um manifesto dos párias nas ruas de São Paulo.

3. "República dos Bananas"
Parceria de Branco Mello com o cartunista Angeli, o palhaço Hugo Possolo e o guitarrista Emerson Villani. A letra lista personagens em situações trágicas ou ridículas impostas pelo cotidiano, com humor.

4. "Fala, Renata"
A personagem fofoqueira já provocou reações iradas de fãs chamadas Renata.

5. "Cadáver sobre Cadáver"
De Miklos e Arnaldo Antunes. Pesada, angustiada, outra que remete a "Titanomaquia".

6. "Canalha"
Regravação de raro sucesso do "maldito" Walter Franco. Perfeita para o clima do disco.

7. "Pedofilia"
A letra mais impactante da safra, alternando os discursos da vítima e do molestador.

8. "Chegada ao Brasil (Terra à Vista)"
Mais uma vez Branco traz alguns parceiros "externos" —o diretor de teatro Aderbal Freire-Filho e Emerson Villani— para injetar humor.

9. "Eu me Sinto Bem"
Britto berra a letra, numa faixa que poderia ter saído de "Cabeça Dinossauro".

10. "Flores pra Ela"
Miklos canta sobre a violência contra as mulheres. "Ele é o dono/ ela é o cão/ e não tem como ela dizer não".

11. "Não Pode"
Britto, de novo, cantando a letra como um bate-estaca. Para quebrar tudo no show.

12. "Senhor"
Letra inspirada de Belloto, emulando uma oração. "Senhor! Não me livre do pecado/ me livre da culpa".

13. "Baião de Dois"
A faixa que mais deixa explícita a proposta da banda em adicionar brasilidade ao rock, a começar pelo título.

14. "Quem São os Animais?"
Escrita e cantada por Britto, entra direto nos clássicos da banda. Uma canção sobre intolerância sexual, racial e social. "Te chamam de veado e vivem no passado/ te chamam de macaco e inventam o teu pecado".


Endereço da página:

Links no texto: