Folha de S. Paulo


Canais de humor tentam repetir sucesso do Porta dos Fundos

Jesus e Satanás retratam um mesmo modelo. O primeiro pinta uma versão da "Mona Lisa", de Leonardo da Vinci. O segundo imita o artista brasileiro Romero Britto.

A cena está no vídeo "Jesus Humilha Satanás", do Amada Foca, um dos canais de humor considerados promissores pelo YouTube. São comediantes que querem chegar a ser os novos Porta dos Fundos, grupo de humor de maior sucesso na internet.

No ar há um ano, o Amada Foca reúne ex-funcionários da antiga MTV. Algumas caras são conhecidas do antigo programa "Furo MTV".

Eles lançam dois vídeos por semana, entre esquetes (histórias curtas), quadros fixos e paródias musicais. Querem chegar a sete. "A ideia é fazer humor com notícia e ter a entrada certa de patrocinador", diz o diretor Marcelo Botta, 30.

Além da receita que consegue com a visualização dos vídeos na internet, o grupo diz lucrar entre R$ 50 mil a R$ 200 mil com campanhas publicitárias eventuais.

Alessandro Shinoda/Folhapress
Em sentido horário, Bruno Sutter, Marcelo Botta, Gabriel DiGiacomo, Bento Ribeiro, Paula Vilhena, Daniel Furlan e Paulo Serra, do Amada Foca
Em sentido horário, Bruno Sutter, Marcelo Botta, Gabriel DiGiacomo, Bento Ribeiro, Paula Vilhena, Daniel Furlan e Paulo Serra, do Amada Foca

Essa é a maior diferença entre o grupo e os outros que querem ser o "novo Porta dos Fundos". A maioria lucra só com visualizações. Para cada mil, a plataforma pode pagar cerca de um centavo, a depender do contrato.

Em comum, a maioria tem a opção pelo esquete como formato primordial.

Com 42 milhões de visualizações em três anos de vida, o baiano +1! Filmes descobriu o filão do humor pela internet por acaso, antes até do "boom" do Porta dos Fundos. "Não tivemos tempo de sermos influenciados por eles", diz a produtora Moara Rocha.

Segundo ela, o grupo nasceu como projeto final de um curso em 2010, dois anos antes do Porta. A repercussão do primeiro vídeo foi tamanha que desde então eles lançam três vídeos por semana.

O grupo tem tom regional forte. "Discutimos limpar as gírias para nacionalizar, mas, hoje, deixar de ser baiano não é uma possibilidade."

Novato, o gaúcho Esquete Men teve o Porta dos Fundos como maior referência para seus esquetes semanais. Segundo Felipe Bruxel, 20, o diferencial do seu grupo é trabalhar temas do cotidiano.

O único que foge um pouco do formato é o canal Acidez Feminina, capitaneado por Taty Ferreira, 27, com 41 milhões de visualizações.

Duas vezes por semana, Ferreira faz uma espécie de stand-up sobre temas ligados ao universo feminino.

"Esse momento do humor na internet está só começando. Menos de 50% da população têm banda larga no Brasil. Há muita gente a ser atingida", diz Ferreira, que largou o curso de pedagogia para se dedicar ao humor. Por enquanto, sua renda vem de visualizações e do que ganha com sua loja virtual (cerca de R$ 4.000 por mês).

Para veteranos da internet ouvidos pela Folha, o meio oferece possibilidades ainda inexploradas. "A evolução será desenvolver linguagens além da comédia", diz Rafinha Bastos, que publicou seu primeiro vídeo em 1998.

"Eu acho que tem espaço para a comédia, é um gênero amplo. Mas as pessoas podem fazer outro tipo de humor. Fazer mais do mesmo é uma perda de energia", critica Antonio Tabet, que em 2002 lançou o site Kibe Loco e integra o Porta dos Fundos.


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