Folha de S. Paulo


Música brasileira perde a alegria de Jair Rodrigues, morto aos 75

Famoso em todo o Brasil por gravar canções de apelopopular e manter uma atitude de alegria constante, Jair Rodrigues morreu ontem aos 75 anos em sua casa, em Cotia, na Grande São Paulo.

O corpo foi encontrado às 9h30 na sauna da casa. A causa da morte foi infarto, segundo sua assessoria.

Declarações de amigos indicam que Jair não apresentava problemas de saúde. Cumpria agenda de shows, após ter lançado dois CDs em março. Sua última apresentação foi na terça, em São Lourenço (MG). Tinha mais três shows marcados para este mês.

Davi Ribeiro/Folhapress
A viúva, Clodine, com os filhos Luciana Mello e Jairzinho, e a nora, Tania Khalill, no velório do cantor
A viúva, Clodine, com os filhos Luciana Mello e Jairzinho, e a nora, Tania Khalill, no velório do cantor

Era raro Jair não cantar, nos shows, seus sucessos "Deixa Isso pra Lá" (1964), de Alberto Paz e Edson Menezes, e "Disparada" (1966), de Geraldo Vandré e Téo de Barros. A primeira canção é considerada precursora brasileira do rap, com seu refrão quase falado. A segunda venceu o Festival da Música Popular Brasileira de 1966, empatada com "A Banda", de Chico Buarque, e defendida por Nara Leão.

A consagração no festival chegou quando Jair já era conhecido por seu trabalho na TV. Ele comandava o programa "O Fino da Bossa", ao lado de Elis Regina. Mas sua carreira começara ainda no final dos anos 1950, em casas noturnas do interior paulista.

NASCIDO NO CANAVIAL

Jair Rodrigues nasceu em 6 de fevereiro de 1939, em um canavial em Igarapava (446 km a norte de São Paulo). Trabalhou como engraxate, ajudante de alfaiataria e de pedreiro antes de virar cantor.

Sua aproximação com a música teve influência do coral da igreja, dos seresteiros da região de Nova Europa, onde morou com a família, e dos colegas da alfaiataria que ouviam cantores como Ataulfo Alves, Agostinho dos Santos, Silvio Caldas e Ângela Maria.

Em 1959, Jair se mudou para São Paulo. Enquanto ele trabalhava em alfaiataria, participava de programas de calouros e cantava na noite.

Seu primeiro compacto foi gravado em 1962. Os primeiros LPs, de 1964, foram "Vou de Samba com Você" e "O Samba como Ele É". Então veio "Deixa Isso pra Lá".

"Quando gravei essa música, a maior parte dos críticos escreveu que eu era artista de uma música só. Era preconceito, eu ficava triste."

Em 1965, cantou pela primeira vez com Elis. O primeiro disco da dupla, "Dois na Bossa", foi um fenômeno que vendeu um milhão de cópias.

Editoria de Arte/Folhapress

Em 1971, gravou o álbum "Festa para um Rei Negro". A música que dá título ao disco era enredo do Salgueiro. É menos conhecida pelo nome, mas seu refrão é o famoso "Ô lê lê, ô lá lá/ pega no ganzê/ pega no ganzá".

Nos anos 1980, se aproximou do sertanejo e alcançou um de seus maiores êxitos (um milhão de cópias) com "Sua Majestade, o Sabiá", composta por Roberta Miranda.

Em 2006, foi o homenageado no Prêmio Tim de Música e recebeu indicação ao Grammy Latino, na categoria Álbum de Samba Brasileiro, com "Alma Negra".

O velório foi ontem, na Assembleia Legislativa de São Paulo. O enterro está marcado para as 11h de hoje, no cemitério do Morumbi, restrito a familiares e amigos.

Jair Rodrigues deixa a mulher, Clodine (com que se casou em 1974), os filhos Jair Oliveira e Luciana Mello, também cantores, e quatro netos.


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