Folha de S. Paulo


Milão exibe técnica e imaginação de Paulo Mendes da Rocha em desenhos

Centro dedicado à arquitetura e ao design, a Triennale de Milão abriga a partir de hoje a maior mostra sobre a obra de Paulo Mendes da Rocha já feita fora do Brasil.

É também a exposição que dá mais destaque aos desenhos do arquiteto: são mais de 250 originais, entre trabalhos técnicos, croquis e esboços. A mostra deve chegar ao Brasil após percorrer algumas instituições europeias.

"Paulo Mendes da Rocha: Técnica e Imaginação" vai ocupar uma área de 600 m² no prédio da Triennale.

Paulo Mendes da Rocha
Croqui do projeto do concurso para a sede do CREA de SP e do Mato Grosso, de 1978
Croqui do projeto do concurso para a sede do CREA de SP e do Mato Grosso, de 1978

Também fazem parte da mostra 150 fotos, documentos, livros, uma série de vídeos, uma coleção de cadeiras Paulistano e maquetes. Há desde material inédito até peças mais conhecidas, como uma maquete da Praça do Patriarca, que faz parte do acervo do Centro Georges Pompidou, na França.

Tudo foi garimpado pelo curador, o crítico italiano Daniele Pisani, no escritório do arquiteto no centro de São Paulo. Pisani mergulhou por cinco anos na obra de Mendes da Rocha para produzir o livro "Paulo Mendes da Rocha, Obra Completa", para a editora Electa italiana, traduzido para o portugês pela editora Gustavo Gigli, (R$ 225, 400 págs.).

A mostra destaca temas importantes da obra do arquiteto, vencedor em 2006 do prêmio Pritzker e um dos maiores da arquitetura contemporânea: natureza, território, engenho e técnica.

"A ideia fundamental da obra dele é que a arquitetura não é um prédio e mais um prédio e mais um prédio, e sim uma transformação geral da natureza", diz Pisani.

"Isso acontece nos projetos urbanos e infraestruturais, claro, mas também as obras de menor tamanho são 'territoriais': o MuBE, por exemplo, é uma demonstração de que fazer arquitetura quer dizer em primeiro lugar transformar a topografia", completa o curador.

Na visão de Pisani, a arquitetura de Mendes da Rocha é única. "Em italiano se diz 'inattuale', porque não se ocupa do presente. O Paulo se formou na década de 1950. Nunca parou. Continua a olhar pra frente. Não está interessado em ser atual. Para ele, se preocupar sobre isso é uma besteira. O Paulo também não se preocupa com o mercado, ou com clientes. Faz só o que ele acha certo fazer. Sorte que tenha clientes que aceitem isso!"

QUATRO MARCOS

Num percurso cronológico, a mostra considera quatro marcos importantes.

O projeto do Clube Paulistano, como primeira fase, seguido pela época do afastamento da FAU, devido ao AI-5, mas também o período do projeto do Pavilhão de Osaka, no Japão, considerado um manifesto.

Como um terceiro momento, estão os anos 1986 e 1987, marcados pelo projeto do MuBE, que deu visibilidade ao arquiteto, e também pela loja Forma, em São Paulo.

Como período mais recente, os projetos da Pinacoteca e da Praça do Patriarca, quando ele "finalmente constrói no centro de São Paulo e realiza alguns modelos da cidade para todos", diz Pisani.

O curador considera que a mostra pode ajudar a atrair o olhar para a arquitetura brasileira e a escola paulista.

"Há outros arquitetos de alto nível que merecem ser estudados e divulgados, no interior e no exterior. Aliás, quantos livros de boa qualidade existem sobre Niemeyer?", pergunta.

Mas vê também um perigo. "O perigo de estabelecer uma 'escola paulista' como um partido formal. Como historiador, tenho medo que a visibilidade do Paulo Mendes da Rocha seja o começo de uma leitura forçada da arquitetura paulista como um percurso único. Para mim, é o contrário: a arquitetura paulista é rica porque é plural."

Reprodução
Desenho do Pavilhão do Brasil na Exposição Universal de Osaka
Desenho do Pavilhão do Brasil na Exposição Universal de Osaka

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