Folha de S. Paulo


Homenagem no México marca adeus a Gabriel García Márquez

A Cidade do México, adotada por Gabriel García Márquez como sua casa durante mais de três décadas, se despediu nesta segunda-feira (21) do prêmio Nobel de Literatura com uma cerimônia no Palácio das Belas Artes, com a presença da família do escritor, dois chefes de Estado e milhares de fãs.

O governo do país organizou uma homenagem oficial para que os admiradores de sua obra pudessem se despedir, uma vez que o corpo havia sido cremado numa cerimônia privada, apenas com a presença de familiares. O destino final das cinzas ainda não foi anunciado.

Sob aplausos, a viúva do escritor colombiano, Mercedes Barcha, entrou no vestíbulo do Palácio carregando uma urna de madeira com as cinzas de García Márquez, que morreu aos 87 anos na quinta-feira passada.

Barcha, seus filhos Rodrigo e Gonzalo, vários netos e Jaime García Márquez, um dos dez irmãos do escritor, entre outros familiares, chegaram ao Palácio cercados por um grande aparato policial, que os escoltou desde a casa do escritor, no bairro de El Pedregal.

A urna com as cinzas de García Márquez foi colocada em um atril negro, e guardas de honra se revezam para homenagear o escritor internacional, que fez do México sua segunda pátria. O local foi enfeitado com cerca de 10 mil rosas amarelas, flor que acompanhava o colombiano na hora de escrever.

Estiveram na cerimônia os presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos, e do México, Enrique Peña Nieto. Ambos se sentaram ao lado da viúva do escritor durante a homenagem. "Se Gabo fazia algo melhor do que escrever livros, isso era fazer amigos", disse Santos, acrescentando que falava em nome de 47 milhões de colombianos. "Ele nos deixa seus livros, contos, crônicas, anedotas, mas também a esperança, a tarefa e a determinação de nos unirmos para o bem do nosso povo."

Peña Nieto descreveu García Márquez como um dos grandes nomes da literatura, afirmando que seu legado servirá de influência para futuras gerações. "Suas palavras e livros sobreviverão os limites da efêmera vida humana", afirmou o presidente mexicano. "García Márquez foi o maior escritor da América Latina de todos os tempos. Sua morte é uma grande perda não apenas para a literatura, mas para toda a humanidade. Gabo desentranhou a essência e identidade de nossa América Latina e a projetou ao mundo."

Entre os presentes na cerimônia, muitos usavam rosas amarelas na lapela, e alguns cumprimentaram a viúva e os filhos do escritor, enquanto um quarteto de cordas executava músicas de Béla Bartók, Joseph Haydn e Georg Handel.

Embora a família do escritor tenha feito uma seleção de músicas clássicas a serem executadas em sua homenagem, um grupo de vallenato (estilo musical popular da Colômbia) se apresentou e foi recebido calorosamente pelo público.

Foi trazido ainda ao Palácio um retrato gigante do autor com uma de suas frases mais famosas, "a vida não é o que alguém viveu, mas a que alguém recorda e como a recorda para contar".

Do lado de fora, milhares de pessoas fizeram fila para entrar no local e se despedir do escritor. Algumas carregavam flores amarelas e outras, livros. Em vários momentos, entoaram a canção "Macondo", popularizada na voz do mexicano Óscar Chávez.

Os presidentes de México, Enrique Peña Nieto, e Colômbia, Juan Manuel Santos, também participam da homenagem.

Santos chegou na tarde desta segunda-feira ao México, acompanhado por sua mulher, María Clemencia Rodríguez, o filho Martín e uma dezena de amigos de García Márquez, entre eles o ex-presidente colombiano César Gaviria, o escritor William Ospina e os jornalistas Enrique Santos (irmão do presidente) e Roberto Pombo, diretor do jornal "El Tiempo".

Na terça-feira (22), Santos liderará outra cerimônia solene na Catedral de Bogotá, com a presença de grandes figuras nacionais, e na quarta-feira, dia internacional do livro, haverá a leitura de "Ninguém Escreve ao Coronel" em mais de mil bibliotecas públicas, parques e colégios da Colômbia.

DESPEDIDA

Milhares de leitores de García Márquez compareceram ao local para prestar seu último tributo ao gigante da literatura latino-americana, que, ao lado de nomes como o rival peruano Mario Vargas Llosa, os argentinos Julio Cortázar e Jorge Luis Borges, o cubano Alejo Carpentier e o mexicano Carlos Fuentes, ajudou a abrir os olhos da crítica literária para o continente.

"Ele despertou em mim um amor pela literatura e será sempre único, por ter marcado minha vida", disse a bióloga Monserrat Paredes, 27, carregando um buquê de rosas amarelas. "Sua genialidade não o tornou imortal, embora ele o seja para mim", disse, em meio a lágrimas.

Monica Arrisson, professora de matemática de 55 anos, veio do Estado mexicano de Chihuahua até a capital do país para a cerimônia. Para ela, García Márquez "foi o maior que já existiu na América Latina".

"Gostaria de agradecê-lo pelo gosto que me incutiu pela leitura. Assim como nos 'Cem Anos de Solidão', que ele sobreviva mais cem anos nos nossos corações", disse Joseline López, uma venezuelana de 21 anos que estuda medicina no México.

"Ainda não posso acreditar que ele morreu. Estando aqui, posso assimilar melhor as coisas", declarou Felisa Tole, colombiana que vive no México há oito anos.

O escritor foi responsável por obras como "Cem Anos de Solidão", "O Amor nos Tempos do Cólera" e "Crônica de uma Morte Anunciada".


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