Folha de S. Paulo


Crítica: Biografia retrata AC/DC como uma empresa familiar do rock

Semana tensa para os fãs de rock pesado: segunda-feira passada, dia 14, uma rádio australiana anunciou que o grupo australiano AC/DC estaria se aposentando, por causa da doença do guitarrista Malcolm Young, 61.

A banda confirmou que Malcolm estava doente (boatos dizem que ele teve um derrame), e que estaria se desligando da banda por um tempo, mas que o AC/DC não havia acabado e estava prestes a entrar em estúdio para compor novas canções.

Uma turnê, prometida em celebração aos 40 anos de fundação do grupo, ainda não foi confirmada.

Adriano Vizoni/Folhapress
Angus Young (esq.) e Brian Johnson em show do AC/DC no Morumbi
Angus Young (esq.) e Brian Johnson em show do AC/DC no Morumbi

Malcolm criou o AC/DC no fim de 1973 com o irmão, o também guitarrista Angus Young, três anos mais novo. Malcolm e Angus nasceram em Glasgow, na Escócia, mas mudaram com a família para Sydney, na Austrália, em 1963.

Se o AC/DC pode ser definido em uma palavra, é "família". Malcolm e Angus sempre foram muito unidos, e blindaram o grupo contra qualquer influência externa.

Há 40 anos, lideram o AC/DC como uma empresa familiar, onde estranhos não são bem-vindos, mas velhos parceiros são recompensados.

Os integrantes do grupo são extremamente reclusos, só dão entrevistas em épocas de lançamento de discos, e não falam sobre suas vidas.

O livro, "AC/DC: A Biografia", escrito pelo veterano jornalista inglês Mick Wall, acaba de sair no Brasil, e mostra como os irmãos Young se mantiveram por tanto tempo fiéis aos mesmos princípios e às mesmas pessoas.

Wall, 55, cobre metal e hard rock há mais de três décadas. Escreveu livros sobre Led Zeppelin, Ozzy Osbourne e Metallica, e entrevistou os integrantes do AC/DC diversas vezes.
relato detalhista

São essas entrevistas que formam a base do trabalho de Wall. Nenhum integrante do grupo aceitou dar entrevistas inéditas. O livro não traz nenhuma grande revelação, mas é um relato detalhista e bem feito da trajetória da banda.

A carreira do AC/DC quase foi interrompida em 1980, com a morte, por alcoolismo, do cantor Bon Scott. A banda conseguiu não só sobreviver à tragédia, mas usá-la para "fechar" ainda mais a família.

O disco seguinte, "Back in Black" (1980), já com o cantor, Brian Johnson, foi o maior sucesso do AC/DC, vendeu mais de 40 milhões de cópias, e é o quarto disco mais vendido da história, atrás apenas de "Thriller" (Michael Jackson), "The Dark Side of the Moon" (Pink Floyd) e "Their Greatest Hits" (The Eagles).

O AC/DC parece habitar uma cápsula do tempo. A banda continua fazendo o mesmo blues distorcido e agressivo dos anos 1970, Brian Johnson parece não tirar o boné nem para tomar banho, e o uniforme de colegial usado por Angus Young o deixa preso à perpétua adolescência.

Talvez esse seja o segredo do sucesso: num mundo pop em constante mutação, eles representam um porto seguro para os fãs. Tudo no mundo pode mudar. Menos o AC/DC.

ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e diretor do programa "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", no Canal Brasil

AC/DC: A BIOGRAFIA
AUTOR Mick Wall
TRADUÇÃO Marcelo Barbão
EDITORA Globo
QUANTO R$ 34,90 (456 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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