Folha de S. Paulo


André Forastieri declara a morte do rock em seu livro de estreia

O rock já era e não há chance de ressurreição. Quem avisa é o jornalista paulista André Forastieri, 48, em "O Dia em que o Rock Morreu", primeiro livro da sua carreira.

A obra, que deve chegar às livrarias no fim deste mês, reúne 40 textos curtos sobre música publicados por Forastieri desde os anos 1990.

A maioria vem de seu blog no portal R7, do qual é editor-executivo. Há ainda textos escritos para a Folha e "O Estado de S. Paulo", para as revistas "Bizz" e "General" e para o portal G1, além de quatro escritos inéditos.

Zé Carlos Barretta/Folhapress
O jornalista André Forastieri na sede da Rede Record, na zona oeste de São Paulo
O jornalista André Forastieri na sede da Rede Record, na zona oeste de São Paulo

Forastieri decidiu concluir agora o livro em função do aniversário de 20 anos do suicídio de Kurt Cobain (1967-1994). Ele entrevistou, para a revista "Bizz", o vocalista do grupo Nirvana quando esse tinha 25 anos.

A entrevista, a única do volume, está no último capítulo, que foi inteiramente dedicado à banda de Seattle.

"Tudo que veio depois do grunge [nos anos 90] é revival. O que existe é um remix infinito da iconografia, da simbologia, dos acordes do que já passou", analisa.

O fio condutor do livro é justamente a morte: das gravadoras, dos críticos, dos ícones. John Lennon, Elvis Presley, Donna Summer, Whitney Houston, Chorão, Michael Jackson e Amy Winehouse estão entre as figuras analisadas nos textos.

Para o autor, no centro da crise está a internet, que, com a pirataria, minou o sustento das bandas. "A partir do momento em que não se ganha dinheiro, por que se vai querer tocar? Então hoje, quando alguém pega numa guitarra, é para homenagear o passado. Quem está a fim de ganhar e provocar vai fazer outras coisas", avalia.

"O Guimê [um dos principais MCs do funk ostentação], com tatuagens na cara, é muito mais provocativo do que o metal satânico escandinavo. Se você for um pai hoje, vai ter muito mais horror da sua filha gostar do Guimê", ri.

A web, segundo Forastieri, também matou o imaginário em torno dos ídolos roqueiros. "Hoje o artista fica o dia inteiro tirando selfies e colocando no Instagram. Imagina o Jim Morrison fazendo isso? Ninguém iria achá-lo o grande deus se houvesse essa facilidade."

Para Forastieri, no Brasil, há um agravante nessa crise, "a música impopular brasileira". "O Brasil nunca teve rock. O brasileiro odeia o conflito. É uma cultura de assimilação e não de choque. E o pouco que havia de cheirinho de rock foi sequestrado pelos tropicalistas e sua gente e está na mão deles até hoje."

Os artistas indie atuais, na avaliação do autor, não querem nada com o público.

"Decidiram ser irrelevantes e foram para a Augusta e para os Sescs. Lá fora, as pessoas estão vivendo com uma trilha que esses caras não sabem o que é. É um esnobismo estéril", diz, se referindo a nomes como Romulo Fróes, Marcelo Jeneci ou Emicida.

"Se o Sesc fechar amanhã, essa cena inteira acaba e todo mundo vai ter que arrumar emprego, o que vai ser difícil. Adoraria ver essa cena."

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TRECHO

"A nova geração da música brasileira, como a nova geração do nosso cinema e a nova geração da nossa literatura, está confortável na sua eterna impopularidade e no seu eterno sucesso de crítica. Porque vive confortavelmente sendo impopular. E os elogios da crítica, além de acariciar o ego, garantem uns caraminguás no circuito que paga bem pelo perfume da descolância. Não discuto se tem livro bom aqui e canção maravilhosa acolá. Não é o ponto."

Extraído de "O Dia em que o Rock Morreu", de André Forastieri


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