Folha de S. Paulo


Fazer má literatura é difícil, diz escritor Leonardo Padura em debate

Escrever mal é difícil, declarou um dos maiores escritores contemporâneos.

Durante debate anteontem à noite no Sesc Consolação, em São Paulo, para divulgar seu romance "O Homem que Amava os Cachorros", o cubano Leonardo Padura, colunista da Folha, caçoou de autores best-sellers.

"Escrever livros como os de Paulo Coelho e Dan Brown não é fácil, não há muitos Dan Browns que possam escrever um romance tão horrível como 'O Código Da Vinci', que venda milhões de exemplares. Há que se saber fazer má literatura para poder escrever um livro desses", disse, provocando risos na plateia.

Jorge Araujo/Folhapress
O escritor cubano Leonardo Padura durante debate anteontem à noite em São Paulo
O escritor cubano Leonardo Padura durante debate anteontem à noite em São Paulo

Padura respondia a uma questão sobre como era possível que, mesmo sendo um "antibest-seller" (quase 600 páginas, vários narradores e tempos verbais e sobre um fato amplamente investigado, o assassinato de Leon Trótski por Ramón Mercader), "O Homem que Amava os Cachorros" virou um acontecimento literário.

O romance, que segundo a editora Boitempo já vendeu 12 mil exemplares no Brasil (um êxito para o país, onde livros do tipo têm tiragens médias de 3.000 cópias), foi aclamado pela crítica e recomendado por figuras como a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Padura respondeu a perguntas do público, do mediador Kim Doria (da Boitempo) e de três debatedores: o historiador e professor Gilberto Maringoni, o escritor Ricardo Lísias e a repórter especial da Folha Sylvia Colombo.

Nascido em 1955 em Havana, Padura notabilizou-se por seus romances policiais de estilo literário. É criador do detetive Mario Conde, protagonista de obras como "Ventos de Quaresma" e "Adeus, Hemingway".

Jornalista e ensaísta, é também um leitor refinado da realidade cubana —faz críticas ao regime, mas também reconhece seus efeitos positivos, e continua a viver na ilha.

No debate de anteontem, ele disse que seus livros são "falsos romances policiais". "São romances que qualquer leitor descobre desde o começo quem é o assassino e o que aconteceu. O importante é por que aconteceu algo e o que significa isso numa sociedade como a cubana."

Padura fez críticas ao modelo de socialismo soviético que norteou regimes como o de Cuba ("Stálin perverteu a utopia de uma sociedade igualitária") e explicou por que permanece morando na ilha mesmo tendo passaporte espanhol. "Porque sou um escritor cubano, nunca vou ser um escritor espanhol, e um escritor é resultado de sua cultura e de sua experiência."

Ao responder sobre sua atividade como jornalista, menos conhecida que a de escritor, ele comparou o jornalismo atual a redes de fast-food. "Está se convertendo num ofício em que tudo sai igual e todos têm o mesmo aspecto."


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