Folha de S. Paulo


Crítica: Romance incompleto de F. Scott Fitzgerald revela complexidade

As duas vias mais frequentadas pelos iniciantes, rumo à obra de F. Scott Fitzgerald (1896-1940), são "O Grande Gatsby" e "Paris É uma Festa". A primeira via é um dos romances mais badalados do século 20, lançado em 1925 e considerado o melhor romance norte-americano já escrito.

A segunda são as sacanas memórias de Ernest Hemingway, publicadas postumamente, em 1964, sobre a "geração perdida", que incluía Scott Fitzgerald e se reunia em torno de Gertrude Stein.

A tragédia do excêntrico Jay Gatsby escancara a rotina vazia e superficial dos endinheirados na Era do Jazz. É um retrato impiedoso dos anos dourados do charleston.

Claudia Kfouri

Por sua vez, as páginas que Hemingway dedicou ao instável Scott e sua turbulenta mulher, Zelda, também são um retrato impiedoso desse casal corroído pelo alcoolismo, pela tuberculose (ele) e pelo transtorno bipolar (ela).

Hemingway faz questão de realçar a hipocondria e a insegurança do amigo que tanto admirava e torturava com sua ironia.

A insegurança do escritor abrangia tudo, principalmente sua produção literária. No fim da vida, veio o ostracismo.

Scott foi escrever roteiros em Hollywood, atividade que considerava degradante. Morreu aos 44 anos, de ataque cardíaco, deixando pela metade "O Último Magnata".

Dessa narrativa temos o rascunho dos primeiros capítulos e uma coleção de anotações e esboços.

De acordo com o crítico Edmund Wilson, "a intenção do autor era produzir um romance tão concentrado e elaborado quanto 'O Grande Gatsby'".

Em sua obra mais ambiciosa, Scott Fitzgerald planejava vingar-se da indústria do cinema nos Estados Unidos, expondo-a a partir de dentro.

"O Último Magnata" é um "roman à clef" narrado por Cecilia Brady, talvez a personagem menos inescrupulosa da trama. O autor inspirou-se na carreira do produtor Irving Thalberg para moldar seu protagonista, Monroe Stahr, e narrar a ascensão e queda de Stahr em Hollywood.

Seu maior rival, Pat Brady, pai de Cecilia, foi baseado no chefe de estúdio Louis B. Mayer.

Mesmo incompleto, o rascunho de "O Último Magnata" já revela sua potente complexidade. Mas a afirmação entusiasmada de Edmund Wilson de que é "a obra mais madura de Fitzgerald" sempre me parecerá exagerada.

LUIZ BRAS é crítico literário e escritor, autor do romance "Sozinho no Deserto Extremo" (Prumo)

O ÚLTIMO MAGNATA
AUTOR F. Scott Fitzgerald
TRADUÇÃO Christian Schwartz
EDITORA Penguin Companhia
QUANTO R$ 25,50 (232 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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