Folha de S. Paulo


Filme 'Entre Nós' discute a ética na classe média

Diretor de "Cidade dos Homens" (2007), sobre dois jovens que cresceram na favela, Paulo Morelli rodou mais um filme sobre amizade que tem o morro como cenário.

Mas em "Entre Nós", que estreia hoje, sai de cena o retrato de comunidades cariocas para dar lugar a um sítio na serra da Mantiqueira que reúne um grupo de sete amigos de classe média alta.

"Quis sair daquele universo da favela, onde tudo gira em torno da sobrevivência, para tratar dos conflitos morais de um mundo que conheço", diz Morelli. "É um filme sobre a classe média, sobre ser ético e leal ao que se sonha."

Divulgação
Os atores Maria Ribeiro, Caio Blat, Lee Taylor, Carolina Dieckmann e Paulo Vilhena
Os atores Maria Ribeiro, Caio Blat, Lee Taylor, Carolina Dieckmann e Paulo Vilhena

O roteiro, vencedor no último Festival do Rio, foi escrito pelo cineasta e pelo filho, Pedro, codiretor do longa e responsável por opinar na fotografia do filme.

Na trama, sete jovens com aspirações literárias enterram cartas para serem lidas dez anos depois. Um deles (Lee Taylor) morre e o esboço de seu livro é apropriado em segredo por Felipe (Caio Blat).

Quando se reencontram, em 2002, a maioria se acomodou. Dois deles, como o ex-grunge Gus (Paulo Vilhena) se entopem de antidepressivos. Só Felipe virou um escritor famoso, graças ao texto surrupiado.

Blat defende seu personagem: "De certa forma, é o único que se manteve fiel ao projeto de literatura do grupo."

Paulo Morelli conta que optou por mudar o título do filme (era "A Pele do Cordeiro") para dar humanidade ao personagem de Blat. "Não queríamos condená-lo a priori."

A escolha de 2002 como data de reencontro na trama não é aleatória, segundo o cineasta. "O filme fala de expectativas e era um ano em que tínhamos esperança em muita coisa", diz o diretor.

Numa cena, os personagens falam da seleção brasileira, pentacampeã naquele ano, e comemoram a possível eleição de Lula. Felipe é o descrente da discussão: diz que para se chegar ao poder, qualquer um se corrompe.

No elenco, Morelli misturou atores com experiência no cinema (Blat, Maria Ribeiro e Júlio Andrade), outros egressos do teatro (caso de Taylor, saído das montagens de Antunes Filho, e de Martha Nowill) e os globais Vilhena e Carolina Dieckmann.

MARCAS DE IDADE

Na preparação, os sete ficaram isolados por 15 dias no sítio, com diretor e codiretor, improvisando para dar espontaneidade aos diálogos.

Carolina travou no começo. "Sou daquelas que decoram exatamente o texto. Até então eu falava que odiava improvisar", afirma a atriz.

Para Blat, 33, o filme marca a passagem de tempo para a sua geração de atores.

"Agora já começamos a ter as primeiras marcas de expressão", diz, apontando para a foto de Dieckmann no pôster do filme. "O Julio está com fios brancos, o Paulinho com umas entradas."


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