Folha de S. Paulo


SP recebe instalação de francês que cria selva monumental de papelão

Em um canteiro de obras em São Paulo, trabalha-se em ritmo febril para aprontar até 9 de abril 950 torres saídas da prancheta do artista plástico francês Christian Boltanski, 69, uma das figuras de proa da cena contemporânea.

É dele a instalação monumental "19.924.458 +/-", que o Sesc Pompeia inaugura nessa data.

Os arranha-céus que irão abarrotar os 1.400 m² do espaço de convivência do centro cultural são de papelão. Sobre as fachadas, esparramam-se listas de nomes tiradas de catálogos telefônicos.

Divulgação
Obra de Christian Boltanski tem arranha-céus de papelão cobertos por listas de nomes
Obra de Christian Boltanski tem arranha-céus de papelão cobertos por listas de nomes

Alguns desses nomes ganham voz para relatar como chegaram à cidade, num burburinho difundido por caixas de som. A iluminação oscila de acordo com a atualização dos registros de nascimentos e mortes na metrópole. A ideia aqui é falar "da importância e da singularidade de cada pessoa", sem dourar a pílula sobre "seu iminente desaparecimento e substituição pela história de um terceiro", conforme explica o artista à Folha em seu ateliê em Malakoff, na Grande Paris.

O numeral do título faz referência, é claro, à população da capital. "O que me impressionou em São Paulo foi a vida em profusão, o fato de haver ali tantas vidas que não a minha", afirma Boltanski.

Ele já expôs três vezes na Documenta (em Kassel, Alemanha), uma das maiores mostras de arte contemporânea do mundo, e foi escolhido para representar a França na Bienal de Veneza de 2011.

Para ele, "a estatística de não sei quantos milhões de moradores não impede que se considere esse total como 1+1+1+...".

Daí o desejo de estampar nomes sobre os prédios; urge dar identidade ao mundaréu, afinal. "Não é uma reprodução da cidade, uma maquete, mas sim uma ficção de labirinto urbano em que cada história é única, ainda que também frágil, esperando para ser levada pelo vento."


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