Folha de S. Paulo


MIS vai receber doação de fotos da capital paulista dos anos 1950

Antônio Aguillar almoçava com sua mulher, grávida, e Jânio Quadros nos anos 1980. O político pergunta: "O futuro, já tem padrinho?". Não tinha. "Então, sê-lo-ei", disse o ex-presidente.

O jornalista e radialista Antônio Aguillar, de 84 anos, tem essa e outras histórias para contar. E não só, tem também para mostrar, em fotos que tirou ao longo da vida, das quais muitas em breve vão fazer parte do acervo do MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo.

Seus mais de 2.000 negativos de fotos dos anos 50 serão doados à instituição. Segundo o diretor do MIS, André Sturm, o contrato de doação, realizado junto à Secretaria de Estado da Cultura, deve ser efetivado ainda no primeiro semestre deste ano.

"Esse acervo é formado por negativos originais de fotografias da cidade de São Paulo na década de 1950, são imagens de eventos, edifícios e espaços públicos. Há também fotografias de personalidades da cultura e da política da época", explica Sturm.

Aguillar foi fotógrafo do jornal "O Estado de S. Paulo" durante a década de 1950, antes de ir para o rádio, onde lançou grandes sucessos da Jovem Guarda.

Simpático e falante, ele começa sua história em 1948, quando chegou a capital paulista vindo de São José do Rio Preto para procurar emprego. Assim que conseguiu uma boa câmera, usada, comprada de um fotógrafo-ambulante do centro, tentou entrar no "Estado de S. Paulo".

"'Você sabe o que é um quiosque?' Me perguntaram. Eu nem sabia, mas disse que sabia. Então me mandaram trazer uma foto do quiosque do Largo do Arouche com um texto-legenda. Eu levei e me contrataram". Ele conta à Folha em sua casa no bairro São Judas, na zona sul da cidade.

Por dez anos ele fotografou as transformações urbanas pelas quais a cidade passava, políticos como Adhemar de Barros e José Maria Crispim, além de famosos, como Paulo Autran e a primeira Miss Brasil, Martha Rocha.

"O público poderá ter acesso à imagens exclusivas e não muito divulgadas da cidade de São Paulo e de ídolos, principalmente os da Jovem Guarda", diz Sturm sobre as fotos.

Aguillar começou a trabalhar em rádios escrevendo boletins de notícias, "escrevia para o Joelmir Beting ler", conta. Ele passou pela rádio Nacional e chegou à televisão, onde apresentou programas na TV Excelsior e Record nos anos 60.

"Em 1960, estava passando no Art Palácio [cinema do centro de São Paulo] o filme 'Rock Around the Clock' (Ao Balanço das Horas, de 1956, com Bill Haley), eu fui lá fotografar,e quando cheguei vi aquela molecada que arrancava as cadeiras durante o filme e pensei comigo 'taí a razão do sucesso: rock'."

Em seu programa "Ritmos para a Juventude" na rádio Nacional ele começou a tocar rock e lançou músicos da Jovem Guarda, como a banda The Clevers.

"Cheguei a ser intimado a ir no juizado de menores muitas vezes porque os pais reclamavam que as filhas estavam se perdendo indo ao meu programa", diz sobre a época em que os programas de rádio tinham auditório.

Outra de suas histórias é a de quando Chacrinha o apresentou, em um hotel na rua das Palmeiras, na Santa Cecília, ao jovem Roberto Carlos. "Ele disse: 'ajude esse moço que ele vai ser um grande ídolo'. Depois ele gravou 'Splish Splash' e foi um sucesso", diz, mostrando fotos com o cantor.

Aguillar também foi do grupo dos primeiros repórteres do Jornal Nacional, da rede Globo, em São Paulo.

Hoje, Aguillar usa uma câmera fotográfica digital, "porque o material de revelação está sumindo". Porém, diz preferir a analógica, que "exige do fotógrafo um conhecimento técnico, arte e poder de criação".

"Eu fui obrigado a decidir entre a fotografia e o rádio, que foi uma ilusão", lamenta, mas sem nunca ter deixado de tirar fotos nas viagens e passeios que faz.

Junto da doação será publicado um livro com fotos escolhidas por Aguillar. Segundo Sturm, o livro deve sair no segundo semestre.


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