"A Palavra", primeiro grande longa evangélico 100% brasileiro, transpõe para o Nordeste contemporâneo a história de dois profetas bíblicos: Elias e Eliseu.
A incumbência do roteiro ficou a cargo do paulista Guilherme de Almeida Prado ("Perfume de Gardênia", "A Dama do Cine Shanghai"). Ele foi contratado por Zitah Oliveira, advogada pernambucana e frequentadora da igreja Assembleia de Deus para dirigir o longa, previsto para estrear no segundo semestre.
"Só pediram que fosse sobre os profetas do Velho Testamento", afirma o diretor. Com um trecho de doze páginas da Bíblia em mãos, o cineasta ateu criou uma trama que mistura os flagelados da seca, um barão das telecomunicações e a transposição do rio São Francisco. A mensagem de fundo é de fé, claro.
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O ator Tuca Andrada em cena de "A Palavra" |
"Escrevi sem nem ter pisado no sertão. Foi tudo na base do nordeste mitológico", afirma Almeida Prado. "A história colou. A Zitah acha que foi Deus que inspirou, mas fui eu que sentei na cadeira para escrever."
Elias, o milagreiro que ressuscitava pessoas no texto bíblico, se torna um pregador do sertão no filme. "É meio líder comunitário, meio milagreiro", explica o diretor. O papel ficou a cargo de Tuca Andrada.
Na Bíblia, o profeta Elias se opunha ao politeísmo, a adoração de múltiplos deuses praticada pelo rei Acabe e por sua mulher, Jezebel. No filme, o casal (Luciano Szafir e Regina Remencius) adquire a roupagem de um magnata das telecomunicações e de uma apresentadora "de um canal cheio de ídolos da TV".
Andrada também interpreta a versão contemporânea de outro profeta, Eliseu, aquele que nas Escrituras criava fontes no deserto. No filme, ele é um engenheiro que trabalha na transposição das águas do rio São Francisco, para acabar com a seca do sertão.
"É um homem que acredita nos milagres que são frutos do trabalho", diz Almeida Prado.
Seu inimigo é o deputado Bem Hadade (Oscar Magrini), que planeja outros fins para as águas da transposição. "É um rei da picaretagem", descreve o diretor, que se inspirou em Bem-Hadade, monarca sírio descrito na Bíblia.
ADULTÉRIO EMOCIONAL
A Graça Filmes, maior distribuidora de filmes evangélicos do país, também espera levar seus longas para o cinema. A empresa, ligada ao missionário R. R. Soares, já encampou a coprodução Brasil-EUA "Três Histórias, Um Destino", produção que levou mais de 280 mil pessoas aos cinemas.
"Redeem" (que poderia ser traduzido como "redimir") é a próxima aposta, segundo Ygor Siqueira, diretor da Graça Filmes. O filme trata de um executivo americano, casado e com filhos, que se envolve com uma brasileira e vê a vida degringolar.
"Os princípios dele são todos deixados de lado", conta Siqueira. O filme, diz ele, tratará de um tema que preocupa a comunidade evangélica: o "adultério emocional". "É o problema que veio com as mídias sociais, de você se relacionar com outras pessoas não fisicamente, mas virtualmente."
No Brasil, o personagem acaba participando de um culto ministrado pelo missionário R. R. Soares, pede o perdão à família e reconstitui seu casamento.
A outra aposta é uma cinebiografia inspirada no músico gospel Thalles Roberto, "uma pessoa que se envolveu com drogas, prostituição e tudo o que você pode imaginar até o momento que Deus chamou ele para casa", na descrição de Siqueira.