Folha de S. Paulo


Cerimônia foi chata, mas premiou talento estrangeiro e boa safra

Para filmar "Gravidade", Sandra Bullock recebeu de adiantamento US$ 20 milhões de cachê, o mesmo valor total do orçamento de "12 Anos de Escravidão".

Apesar de ter custado uma pechincha para Hollywood, "12 Anos de Escravidão" não teria nem chegado às telas se Brad Pitt não tivesse topado virar produtor e, assim, facilitado o financiamento.

O filme foi inteiramente rodado com uma só câmera em 35 dias. Nos EUA, arrecadou modestos US$ 50 milhões. Só a participação nos lucros de "Gravidade" que vai para a Bullock vale mais que isso.

Talvez o Oscar de melhor filme, o primeiro dado ao trabalho de um diretor negro, ainda faça "12 Anos de Escravidão" ter uma bilheteria melhorzinha nos mercados internacionais, de onde saem os maiores lucros de Hollywood ultimamente.

Mas até o "New York Times" fez reportagem recente perguntando por que filmes feitos por negros e com negros têm bilheterias magras no exterior.

Sem um bom retorno comercial, é difícil acreditar que os produtores de Hollywood comecem a colocar mais dinheiro em filmes que coloquem o negro americano no centro da tela.

DIVERSIDADE ÉTNICA

A Academia de Cinema ainda está distante de representar a diversidade étnica americana, apesar das bem-vindas mudanças.

A nova presidente da entidade é mulher e negra, mas 94% dos membros da Academia são brancos, sendo que 76%, homens. Só 2% dos membros são negros, apesar de representarem 11% da população americana.

Outros 2% deles têm origem hispânica (na população americana são 17%), o que demonstra o feito dos Oscar aos mexicanos Alfonso Cuarón e Emmanuel Lubezki pela direção e fotografia do longa "Gravidade", respectivamente.

A facilidade de Hollywood em absorver talento estrangeiro foi chancelada.

Uma australiana e uma queniana venceram os prêmios de interpretação feminina, os dois vencedores no masculino foram dirigidos por um canadense, "12 Anos" foi dirigido por um britânico que mora em Amsterdam e "Gravidade" por um mexicano radicado em Londres.

A lésbica Ellen DeGeneres foi a anfitriã da cerimônia e o ator Jared Leto homenageou os gays ao receber o Oscar de melhor ator coadjuvante por sua atuação como o travesti de "Clube de Compras Dallas", mesmo com a inexistência de um único galã fora do armário em pleno 2014.

E como Cate Blanchett bem falou ao receber seu prêmio por "Blue Jasmine", filmes protagonizados por mulheres "ainda são tratados como filmes de nicho".

Mas nem tudo é mimimi. Depois de décadas de esquecimento, livro e filme "12 Anos de Escravidão" serão adotados nos currículos escolares americanos no próximo ano letivo. O Brasil da branca "Escrava Isaura" não está melhor na foto que Hollywood.

E a safra 2013 foi mesmo boa, com grandes filmes pequenos ("Nebraska", "Philomena") e bons filmes-pipoca ("Trapaça", "Gravidade" e "O Lobo de Wall Street"). Ao contrário de outros anos, havia o que se premiar.


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