Folha de S. Paulo


Morre aos 81 anos o ator Paulo Goulart

O ator Paulo Goulart morreu nesta quinta-feira (13), às 13h15, aos 81 anos, devido a complicações em decorrência de um câncer renal avançado, contra o qual lutava havia cerca de cinco anos. Ele estava internado no Hospital São José - Beneficência Portuguesa, em São Paulo.

O velório acontece no Theatro Municipal, das 23h30 desta quinta às 13h de sexta (14), aberto ao público. O enterro será às 14h no Cemitério da Consolação.

Ator com extensa carreira no teatro, na televisão e no cinema, ele era casado com a atriz Nicette Bruno e tinha três filhos, as atrizes Beth Goulart e Bárbara Bruno e o ator Paulo Goulart Filho.

Paulo Afonso Miessa nasceu em 9 de janeiro de 1933 em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Seu sobrenome artístico —Goulart— veio de seu tio, o radialista Airton Goulart.

Passou parte da infância na fazenda de plantação de café e depois criação de gado, mas logo mudou-se para Olímpia, também no interior do Estado, onde seu pai fundou uma rádio. Goulart trabalhou nela, primeiro como DJ e operador de som. Aos 13, foi promovido a locutor.

Já crescido, mudou-se para São Paulo para estudar química industrial. "Cheguei até o segundo ano [do curso] e descobri minha verdadeira vocação. Graças a Deus, o teatro me tirou da química", disse ele em entrevista à Folha, em 2010.

Na capital, fez teste para locutor na Rádio Tupi. Apesar de não ter passado, foi contratado como ator de rádio por Oduvaldo Vianna, integrando um time respeitado, com Cassiano Gabus Mendes e Hebe Camargo.

Logo começou a aparecer também na televisão, na TV Tupi. Em 1952, foi contratado pela TV Paulista para fazer parte da novela "Helena", de Manoel Carlos. No mesmo ano, fez sua estreia no teatro, na peça "Senhorita Minha Mãe".

No Teatro de Alumínio, conheceu Nicette Bruno. Pela aparência de galã, foi chamado para atuar ao seu lado na companhia Nicette Bruno e Seus Comediantes com a peça "Senhorita Minha Mãe", de Louis Verneuil, em 1952.

Em 1953, fundou com ela a companhia Teatro Íntimo Nicette Bruno. Os dois se casaram em 1954 e, três anos depois, se mudaram para o Rio de Janeiro. O casal passou ainda por Curitiba, até que voltou a São Paulo na década de 1960.

Nessa época, ela já era uma atriz consagrada e ele foi, no início, conhecido como o "marido de Nicette".

Formaram um grupo com Antônio Abujamra, em 1967, o Teatro Livre, encenando peças sob sua direção, e assumiram por 20 anos a administração do Teatro Paiol, no centro de São Paulo.

Goulart participou de mais de 60 peças de teatro e recebeu os prêmios Móliere e APCA —os dois em 1974 pela atuação em "Orquestra de Senhoritas", de Jean Anouilh. A última peça estrelada por ele foi "O Homem Inesperado", em 1998, ao lado da mulher.

Em 1969, Goulart estreou na Globo, em "A Cabana do Pai Tomás". No canal, atuou também em produções como "Verão Vermelho", "Uma Rosa com Amor", "Plumas e Paetês", "Jogo da Vida", "Transas e Caretas", "Roda de Fogo" e "Fera Radical".

Teve também passagens pela TV Tupi —lá atuou em "Éramos Seis" e "Gaivotas"— e Bandeirantes —fez, por exemplo, "Chapadão do Bugre"—, voltando à Globo. Na década de 1990, fez "O Dono do Mundo" —interpretou o pai de Antonio Fagundes—, "Mulheres de Areia", "As Pupilas do Senhor Reitor" e "Zazá".

Na década seguinte, manteve a produtividade e participou de "Esperança", "América", "Duas Caras", "Cama de Gato" e "Morde e Assopra". Goulart teve atuações marcantes também em minisséries, como "O Auto da Compadecida" e "Aquarela do Brasil".

Seu último trabalho na TV foi na série "Louco Por Elas" (2012), da Globo.

Espírita convicto, participou de dois filmes ligados à religião: "Chico Xavier, o Filme" e "Nosso Lar". Também escreveu a peça teatral "Sete Vidas" —uma das seis assinadas por ele—, depois publicada como livro.

Sobre o fato de seus filhos terem todos seguido carreiras artísticas, ele disse: "Eu estou sempre fazendo o papel de pai de atores que têm quase a minha idade. Eu comecei muito cedo a fazer personagens que são pais, talvez porque, na vida real, eu seja um paizão —e me orgulho disso!".

O gosto pela minúcia também se traduziu em gastronomia, seu maior hobby. Teve um restaurante, o Don Paolo, em São Paulo, e lançou um livro de receitas com Nicette, "Grandes Pratos e Pequenas Histórias de Amor".

Paulo Goulart e Nicette Bruno já foram prestigiados como um casal. Ganharam, em 2006, um Prêmio Shell Especial pela união e trabalho desenvolvidos em 20 anos de carreira. E em 2009, o Prêmio Especial da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) pelo projeto "Teatro nas Universidades".

Além dos três filhos, Goulart deixa sete netos (três dos quais se tornaram atores) e duas bisnetas.

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TRAJETÓRIA

1952
Primeira novela, 'Helena', adaptação de Manoel Carlos para o romance homônimo de Machado de Assis, na TV Paulista

Convidado por Nicette Bruno, na época do elenco da companhia Teatro do Alumino, estreia no teatro com a peça 'Senhorita Minha Mãe', de Louis Verneuil, dirigida por Abelardo Figueiredo

1953
Funda, com Nicette Bruno, a companhia Teatro Íntimo

1956
Participa da montagem da peça 'Vestido de Noiva' de Nelson Rodrigues, com a companhia de Henriette Morineau

1957
Estreia no cinema com o filme 'Rio Zona Norte', de Nelson Pereira dos Santos

1966-68
Atua nas novelas 'As Minas de Prata', 'Os Fantoches' e 'O Terceiro Pecado', escritas por Ivani Ribeiro para a TV Excelsior

1969
Atua nas novelas 'A Cabana do Pai Tomás' (Hedy Maia) e 'Verão Vermelho' (Dias Gomes), da TV Globo

Na trama de Dias Gomes, Goulart integra o triângulo amoroso central junto a Jardel Filho e Dina Sfat

1972
É o par romântico de Marília Pera na novela da Globo 'Uma Rosa com Amor', de Vicente Sesso

1974
Ganha os prêmios da APCA e o Molière de Melhor Ator por sua atuação na peça 'Orquestra de Senhoritas', de Jean Anouilh, com direção de Luís Sérgio Person

1977-79
Na TV Tupi, atua nas novelas 'Éramos Seis' e 'Gaivotas'

1980
Na Globo, participa das novelas 'Plumas e Paetês' (Sílvio de Abreu),

1986
Faz a novela 'Roda de Fogo' ( Lauro César Munis), na TV

1988
Na TV Bandeirantes, atua na minissérie 'Chapadão do Bugre', adaptação de Antônio Carlos da Fontoura para a obra de Mário Palmério, e na Globo, participa da novela 'Fera Radical', de Walther Negrão

1991
Na novela 'O Dono do Mundo' (TV Globo), de Gilberto Braga, interpreta o pai do vilão vivido por Antônio Fagundes

1993
Interpreta o vilão Donato no remake de 'Mulheres de Areia', de Ivani Ribeiro, na TV Globo

1999-2000
Participa das minisséries da Globo 'Auto da Compadecida', adaptação de Guel Arres, Adriana Falcão e João Falcão e 'Aquarela do Brasil', de Lauro César Muniz

2004
Integra elenco das minssérie 'Um Só Coração', de Maria Adelaide Amaral, na TV Globo

2006-7
Na Globo, faz as minisséries 'JK' (Maria Adelaide Amaral) e 'Amazônia - de Galvez a Chico Mendes' (Gloria Perez) e participa da novela 'Duas Caras' (Aguinaldo Silva)

2010-11
Entra nos elencos das novelas da Globo 'Cama de Gato' (Duca Rachid e Thelma Guedes) e 'Morde & Assopra' (Walcyr Carrasco)


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