Folha de S. Paulo


Mostra de arte de rua traz duas obras do grafiteiro Banksy a São Paulo

Dias depois que um mural de Banksy foi vendido em Miami por R$ 1,36 milhão, uma mostra em São Paulo traz dois trabalhos do grafiteiro britânico conhecido por ter se mantido desconhecido até hoje, o que não impede que ele tenha presença constante sob os holofotes do mundo da arte.

Mas ao contrário da cena grafitada sobre um muro, que mostra dois policiais britânicos se beijando, a exposição na Caixa Cultural tem uma serigrafia e uma pintura sobre tela do artista. São trabalhos feitos para o espaço de museus e galerias de arte.

Ou um tanto domesticados, refletindo a tendência de hipervalorização dessas obras. Nesse ponto, o mercado evita o complexo processo de retalhar um muro de alvenaria para levar às casas de leilão –o jornal britânico "The Independent" acaba de publicar um texto explicando a técnica passo a passo– e já encomenda obras a esses artistas em suportes mais vendáveis.

Em São Paulo, estão dois exemplos bem portáteis de obras de Banksy, comprados por um colecionador brasileiro e emprestados para a mostra. Na tela, um casal pintado em preto e branco toma café diante de um fundo rosa-choque, com o detalhe que seus contornos parecem derreter diante do espectador.

Noutra cena marcada pelo humor corrosivo do grafiteiro, sua serigrafia mostra a clássica imagem da garotinha alvejada por napalm durante a Guerra do Vietnã flanqueada por um Mickey Mouse e um Ronald McDonald atingidos por um disparo de tinta vermelha.

Segundo Leonor Viegas, curadora da mostra, ambas são peças de meados da década passada, quando Banksy começou a atrair atenção mundial. Sem dúvida, é também o grande chamariz da mostra agora em cartaz.

"Escolhemos artistas que usam a rua como galeria, que têm um passado e um presente na rua e chamam a atenção por isso", diz Viegas. "É o cidadão comum que se torna uma espécie de curador das ruas. Podemos medir isso nas redes sociais."

Além de Banksy, a mostra reúne artistas como o português MaisMenos, que criou novas intervenções para a mostra brasileira, como uma bola oficial da Copa do Mundo atravessada por uma faca e quadros com cédulas de reais recortadas para formar inscrições como "surreal" e "mensalinho".

Jef Aerosol, francês que começou sua carreira nos anos 1980, aparece na mostra com registros sobre tela feitos com estêncil. Ele retrata personagens como os astros de cinema James Dean e Marilyn Monroe e o lutador Muhammad Ali ao lado da militante negra Angela Davis.

Há ainda peças de Alexandre Farto, o Vhils, que usa a mesma técnica de lambe-lambes que cola nas ruas numa composição que mostra o rosto de um homem formado por fragmentos de cenários urbanos e um grande mural abstrato da dupla italiana StenLex, obra inédita criada para a mostra.


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