Folha de S. Paulo


Para o papel do protagonista em '12 Anos...', ator explorou porte e olhar

Um ano antes de o ator Chiwetel Ejiofor começar a filmar "12 Anos de Escravidão", ele rodava um filme no Estado da Geórgia, onde fez um passeio turístico. Foi a um calabouço do século 19, usado para manter prisioneiros os negros recém-chegados da África antes que fossem leiloados.

"Perguntei ao guia para que serviam as argolas na parede", contou Ejiofor. "Ele respondeu que eram usadas para prender os ibos [grupo étnico africano]. E eu disse a ele que era ibo."

"É nesse momento que você percebe que também esteve lá. É seu sangue."

Francois Duhamel/Divulgação
Chiwetel Ejiofor e Michael Fassbender em cena do filme
Chiwetel Ejiofor e Michael Fassbender em cena do filme

Se "12 Anos de Escravidão" está disputando o Oscar de melhor filme e outros prêmios, isso se deve em larga medida à poderosa e inquietante interpretação de Ejiofor, 36, para a história de Solomon Northup.

O diretor do filme, Steve McQueen, disse que ele sempre foi sua escolha para o papel. Foi o porte de Ejiofor que o convenceu de que ele seria o ator ideal.

"Para mim, Chiwetel tinha a classe que eu precisava mostrar na tela", diz.

Ejiofor mergulhou na preparação, viajando de Calabar, porto nigeriano que servia de polo ao comércio de escravos, à Louisiana rural, do outro lado do Atlântico.

Em alguns dos momentos mais expressivos de Ejiofor, diante de seu cruel feitor, ele não fala, e usa a linguagem corporal, especialmente o seu olhar, para transmitir o que Northup sente. McQueen descreve isso como uma "interpretação tai chi".

"Desde o primeiro dia, meu foco esteve em seus olhos", disse. "Conversávamos sobre como usar o rosto para traduzir linguagem."

Ejiofor vive em Londres. Nasceu lá, no bairro de Forest Gate, para onde seu pai, médico, e sua mãe, farmacêutica, emigraram depois do colapso do Estado separatista de Biafra, na Nigéria, onde os ibos eram maioria.

"Tínhamos prateleiras repletas de clássicos", diz Zain Asher, irmã de Ejiofor. "Nossa mãe acreditava que educação era liberdade. Chiwetel ficava em seu quarto lendo Shakespeare em voz alta da manhã à noite."

"Lembro que quando consegui meus primeiros trabalhos, outro ator me disse que se não mudasse de nome, interpretaria muitos africanos", diz Ejiofor. "Foi uma das coisas mais ofensivas que me disseram. Disse que minha família vinha da África e tinha muita vontade de interpretar africanos."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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