Folha de S. Paulo


Análise: Urbanista Jorge Wilheim escancarou poder e limites da arquitetura do país

Menos de dois anos após se formar em arquitetura no Mackenzie, Jorge Wilheim já estava desenhando, do zero, uma nova cidade no atual Mato Grosso do Sul —em 1954, anos antes de Brasília.

No país onde até a capital nasceu em pranchetas, poucos arquitetos escancararam tão bem os superpoderes da arquitetura (no papel) e suas limitações (na prática) como Wilheim.

Nos últimos 60 anos, ele pôde desenhar os planos diretores de São Paulo, Natal, Campinas e Curitiba, nesta última conseguindo seu melhor resultado.

Mesmo ligado por anos ao antigo PCB, ignorou diferenças ideológicas e trabalhou com os governadores Paulo Egydio, Quércia e Fleury e com os prefeitos Covas e Marta, além do plano de governo de Haddad, sempre em áreas de planejamento urbano.

Mas, em diversas entrevistas , falava das frustrações, de planos que "não tiveram efeito algum".

Em 1994, defendeu uma rede de trens ligando a "macrometrópole" que inclui a Grande São Paulo, Baixada Santista e Campinas. "Esse transporte não pode ser feito com carros e fretados, todas as estradas estão congestionadas". Há 20 anos.

Do seu Plano Diretor de 2002, pouco foi implementado. Ele dizia que, quando governantes não a fim, adiam qualquer regulamentação. Wilheim costumava reclamar da ausência dos planos de bairros, que detalhariam as "coisas miúdas".

O mesmo aconteceu com seu Plano de Transporte Público (2004). "Existe um divórcio entre o discurso, de que o transporte público é importante, e a realidade, na qual o automóvel é sempre beneficiado."

Gabriel Cabral/Folhapress
O urbanista Jorge Wilheim em seu escritório no bairro de Perdizes, em São Paulo
O urbanista Jorge Wilheim em seu escritório no bairro de Perdizes, em São Paulo

CRÍTICAS

Como arquiteto, fez a reurbanização do vale do Anhangabaú, em São Paulo, esplanada bastante criticada até hoje. A obra se arrastou de 1981 a 1992 e o café planejado aonde estão os banheiros públicos não foi construído.

Oito anos depois de inaugurado, Wilheim virou secretário municipal de Planejamento de São Paulo e achou a oportunidade de fazer respeitar seu projeto original e abrir o café. Mas essa "requalificação do entorno" jamais saiu do papel.

Outra frustração foi a de não lecionar no Brasil, por não ter título de pós-graduação. "Já lecionei em Berkeley [EUA], em Lisboa, em Cambridge [Reino Unido], mas aqui, não posso", lamentava.


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