Folha de S. Paulo


Cinema leva editoras a resgatar clássicos e obras que ninguém queria

Foram necessários 160 anos e, ok, uma adaptação para o cinema para que "12 Anos de Escravidão", o relato de Solomon Northup sobre seu período como escravo na Louisiana, nos EUA, chegasse às livrarias nacionais.

A obra de 1853 fez sucesso em seu tempo, mas caiu no esquecimento e se manteve inédita por aqui. Com o filme de Steve McQueen, vencedor do Globo de Ouro e indicado a nove prêmios Oscar, atraiu duas editoras brasileiras.

A Seoman acaba de distribuir sua edição, com tiragem de 10 mil cópias. A da Companhia das Letras sai com 15 mil exemplares no final do mês, dias depois de o filme estrear aqui.

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Cena do filme
Cena do filme "12 Anos de Escravidão", de Steve McQueen, indicado a nove prêmios Oscar

Esse é só um exemplo de como o mercado cinematográfico influencia o editorial, fazendo-o resgatar clássicos, inflacionando obras que ninguém queria e levando títulos há anos fora de catálogo a receber tratamento vip.

Caso parecido com o de "12 Anos..." ocorreu com "Um Conto do Destino", cuja adaptação estreia junto com o filme de McQueen, em 21/2.

O romance de Mark Helprin, publicado em 1983, foi um dos mais votados por críticos em enquete sobre as melhores ficções dos EUA em 25 anos, feita em 2006 pelo "New York Review of Books".

Nada que chamasse a atenção como a adaptação dirigida por Akiva Goldsman, com Will Smith, Jennifer Connelly e Colin Farrell no elenco. Só daí atraiu a Novo Conceito, que editou 50 mil cópias.

"Com sorte, acontece o que aconteceu com 'O Lobo de Wall Street', exigindo só uma capa nova para uma obra que já era nossa", diz Soraia Reis, diretora editorial da Planeta.

Lançado em 2008, o livro de Jordan Belfort estava havia anos indisponível. Com o filme de Martin Scorsese, a editora não só imprimiu 10 mil cópias com capa do filme como publicou a sequência "A Caçada ao Lobo de Wall Street", com 6.000 cópias. Já teve de reimprimir ambos.

Mas apostar em filmes não é simples. Na dúvida, Hollywood compra direitos de livros que nunca irá adaptar. "A indústria produz uns 10% do que adquire como opção para filme. Compram para segurar o projeto", diz o editor Marcos Pereira, da Sextante.

Vivian Wyler, diretora editorial da Rocco –que em abril verá estrear a adaptação de seu hit "Divergente", de Veronica Roth–, diz que o risco existe mesmo quando a produção está avançada. "Às vezes, o diretor pula fora, e o filme, em vez de estrear em 150 salas, vai para a locadora."

Em outro extremo, o efeito do filme é visível antes do lançamento. Um dos maiores sucessos da Intrínseca, "A Menina que Roubava Livros", de Markus Zusak, teve 37 mil cópias vendidas nos 30 dias que antecederam a estreia, em 31/1. No mesmo período de 2013, foram 5.000 cópias.

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a Atriz Sophie Nélisse em cena do filme 'A Menina que Roubava Livros', de Brian Percival
a Atriz Sophie Nélisse em cena do filme 'A Menina que Roubava Livros', de Brian Percival

Mas um dos casos mais inesperados do gênero foi protagonizado pela Sextante. "O Código da Vinci", de Dan Brown, vendia 50 mil cópias por mês quando estreou o filme, em 2006. No mês pós-estreia, as vendas ficaram em 10 mil. As revelações da trama no cinema tiraram o apetite do leitor pelo livro.


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