Folha de S. Paulo


Crítica: Com escravo culto, '12 Anos...' busca identificação da classe média

Quem viu os filmes anteriores do cineasta Steve McQueen irá se surpreender com "12 Anos de Escravidão". Como "Fome" (2008) e "Shame" (2011), seu novo filme é um drama intenso centrado em um protagonista submetido a condições extremas. Mas seu estilo de direção mudou significativamente.

McQueen parecia, em seus dois primeiros longas, tão interessado em acompanhar seus personagens quanto em mostrar suas credenciais como diretor —o que resultava em firulas estéticas típicas dos "filmes de arte".

McQueen está mais sóbrio, mais dedicado a seus personagens, a sua história. Estes elementos são mais que suficientes para garantir a contundência do filme.

"12 Anos de Escravidão" acompanha a trajetória de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor, excepcional), cidadão livre do norte dos EUA que é sequestrado e vendido como escravo no século 19.

As torturas a que Northup é submetido não são novidade, mas McQueen usa (às vezes abusa) dos detalhes gráficos e trabalha o tempo para reiterar a crueldade (em uma cena angustiante de quase quatro minutos, Northup é enforcado em uma árvore enquanto outras pessoas brincam à sua volta).

Há um detalhe na trajetória de Northup que talvez ajude a explicar o sucesso do filme, suas indicações ao Oscar.

Nascido e criado livre, ele era um homem culto, com mulher e filhos, que tocava violino como profissional e falava inglês como um lorde.

Isso pode levar a uma identificação maior do espectador de cinema, que tem subsídios para imaginar: "O que ocorreria se, de repente, tirassem a minha liberdade?".

É o mesmo mecanismo que, grosso modo, nos faz ter mais empatia com o jovem de classe média que é assassinado do que com o homem negro que é preso a um poste com uma trava de bicicleta.

Um contraste que McQueen sabe explorar a favor de seu filme.

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO
DIREÇÃO Steve McQueen
PRODUÇÃO EUA/Reino Unido, 2013
ONDE Kinoplex Itaim e circuito
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom


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