Folha de S. Paulo


Exposição mostra imagens de SP de Mascaro e dois jovens fotógrafos

Três mostras fotográficas ocupam até abril a Casa da Imagem, no centro de São Paulo, próximo ao Pátio do Colégio.

Com curadoria de Henrique Siqueira e Monica Caldiron, "Turista Hotel" reúne 46 trabalhos dos anos 1970 de Cristiano Mascaro.

O paulistano Edu Marin exibe a série de 13 fotos "Câmara de Descompressão", feitas especialmente para o espaço, retratando quartos de hotéis do centro da cidade. Já Felipe Bertarelli expõe, em sua primeira individual, "Túneis Não Mostram o Final", recorte feito de duas séries, "Os Túneis" (2011) e "As Paisagens" (2012-2013).

"Estamos tratando de modos de olhar e de processos de registro da cidade", afirma Henrique Siqueira sobre as exposições em cartaz até abril no espaço dedicado à fotografia e à memória da capital paulista.

Dentre as fotos de Mascaro, destaca-se a região do Brás, documentada no momento em que a linha de metrô chegava ao bairro.

O fotógrafo conseguiu retratar, em seu primeiro ensaio documental após sua carreira no fotojornalismo, operários em oficinas, famílias em suas casas e trabalhadores em seus quartos de pensões. Muitas das imagens expostas são inéditas, garimpadas entre os negativos dos acervos de Mascaro.

"Hoje em dia está muito difícil fotografar as pessoas, todos têm medo não sei do quê. E nós temos medo porque existe uma lei de direito de uso de imagem que mata o retrato na fotografia", diz Mascaro, de 69 anos.

Ali, é possível ver uma cidade, nos anos 70, que não existe mais. "São Paulo é isso aí, uma cidade que se transforma muito rapidamente, em trinta anos você volta a um lugar e ele está praticamente irreconhecível", afirma o fotógrafo.

As imagens de "Câmera de Descompressão" parecem gerar um misto de curiosidade e asco nos visitantes da exposição. São quartos vazios com lençóis às vezes muito brancos, às vezes encardidos, e relances de banheiros, cadeiras e frigobar.

Para Siqueira, as fotos de Edu Marin apresentam "uma sensível interpretação dos quartos de hotéis no centro da cidade, excitando o imaginário que se pode ter sobre seu uso". Marin conta que entrava em hotéis da região central de São Paulo com uma mochila como se fosse um cliente, pedia apenas que fosse um quarto com janelas.

O paulistano de 37 anos diz que mirou em hotéis de alta rotatividade, mas que se assumem como hotéis e não motéis. "É tudo hotel mesmo, com H mesmo e não aquele falseta. Tem gente que vai para tomar banho, para usar drogas, para fazer qualquer coisa."

"Se você entrar ali e não souber que são quartos de hotéis baratos tem toda uma carga de quarto, dos segredos que ele guarda. Tem uma coisa de espera, algo que está para acontecer ou aconteceu e tem uma pausa depois", disse o fotógrafo sobre sua série.

Na mostra de Felipe Bertarelli podemos ver a cidade à noite, entradas de túneis, ruas vazias e luzes que vão do vermelho ao verde e azul.

"O que me chamou atenção em todos esses lugares foi a composição da luz, quase como uma natureza morta, iluminando partes desses lugares e deixando outros nas sombras, como se estivesse destacando algo importante na composição", diz Bertarelli.

O fotógrafo de 30 anos diz que os túneis viraram objeto de sua atenção enquanto fotografava outras partes da cidade. "Fotografar os pontos de ônibus me fez prestar atenção nos carros abandonados, que me fizeram prestar atenção nos relógios da cidade, nos túneis, nas rotatórias", diz.

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA NA CASA DA IMAGEM
QUANDO de ter. a dom., das 9h às 17h; até 16/4
ONDE Casa da Imagem, r. Roberto Simonsen, 136-B, tel.: (11) 3106-5122
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre


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