Folha de S. Paulo


Uso da nudez na performance está mais comedido

Numa performance há dois anos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, o artista colombiano Carlos Monroy contraiu e relaxou o esfíncter em intervalos variados de tempo ao longo de quatro horas. Terminou quase entrando em convulsão, misto de hiperventilação com orgasmo, mas o público quase nada viu.

Isso porque, ao contrário de ações anteriores em que estava nu, Monroy estava vestido com roupas pretas da cabeça aos pés —pouco antes, havia feito uma performance em que, nu, condenava a própria nudez, olhando para um canto de parede horas a fio.

"Estar pelado é uma fase inevitável na carreira de todo performer. Eu ainda fico nu quando acho necessário, não tenho problema com isso", diz o artista. "Mas a nudez não é mais um índice de estar vulnerável diante do público, só causa escândalo."

Longe disso, Monroy pretende realizar —vestido— uma série de ações, entre elas uma reedição da obra do esfíncter no Museu de Arte Contemporânea da USP em abril. E não está sozinho ao aposentar em parte o uso da nudez.

De uns anos para cá, os pelados chegaram à estafa, ou foi a crítica que acabou pegando pesado demais com aqueles que tiram a roupa e acham que fazem arte. Quando se pensa na fase áurea da performance, gênero que despontou com força total à margem da arte conceitual nos anos 1960, a imagem que vem à mente será de um pelado.

Marina Abramovic, Yoko Ono, Vito Acconci, Regina José Galindo e tantos outros já se despiram. Em São Paulo, o festival Verbo, da galeria Vermelho, chegava a parecer vestiário na hora do banho.

Mas passou. Quem se acostumou com cenas como um Fusca cheio de gente pelada há seis anos, ação apresentada na Verbo, acabou não vendo nem um decote na edição do ano passado do festival.

Aslan Cabral, performer que ficou mais conhecido por sua breve participação no "Big Brother Brasil" passado, chegou a pedir aos colegas que desenhassem com batom sobre seu corpo. Mas na Globo, e fora da TV, suas ações mostram bem menos pele.

"Temos dado mais espaço para elementos do dia dia", diz Cabral. "O nu sempre vai ser um lugar onde se fala do corpo vulnerável e sensível, mas os pelados agora estão nas ruas, nos 'toplessaços'."


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