Folha de S. Paulo


"Coutinho foi o maior documentarista brasileiro", diz Cacá Diegues

A morte do cineasta Eduardo Coutinho (1933-2014), neste domingo (2), deixou diretores brasileiros chocados. Coutinho foi assassinado a facadas neste domingo por volta das 11h50 dentro de casa, no bairro da Lagoa, zona sul do Rio. O filho, Daniel Coutinho, é tido como o principal suspeito, segundo a polícia.

À Folha o diretor Cacá Diegues disse considerar Coutinho "o maior documentarista brasileiro".

"Ele sempre foi um homem sereno, bom e calmo. Não conheço nenhum inimigo de Eduardo Coutinho", afirmou Diegues.

Leia a repercussão abaixo.

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Estou chocado. Que história absurda. Eu conheci Coutinho há muitos anos. Ele foi o maior documentarista brasileiro, um homem muito inteligente. Era um prazer conversar com o Coutinho. Fico espantado que isso tenha acontecido. Fico chocado porque ele sempre foi um homem sereno, bom e calmo. Não conheço nenhum inimigo de Eduardo Coutinho. Ele foi sempre se renovando. Cada filme seu era uma novidade. Coutinho foi um cineasta muito original.

CACÁ DIEGUES, cineasta, à Folha

Não ha ninguém no Brasil que possa ocupar o lugar do Coutinho. Fica o vazio. Esse era um mestre..

FERNANDO MEIRELLES, cineasta, no Twitter

Nos deixou hoje –de forma repentina– um grande mestre do cinema brasileiro. Intelectual, artista, interprete da vida brasileira. Eduardo Coutinho inventou uma forma única de entender o país pelo documentário. A cada filme ele descortinou um aspecto profundo da experiência brasileira, nas dimensões politica, social, cultural e espiritual. Por isso sua ampla obra é um dos grandes acontecimentos da cultura brasileira, um legado fundamental.

JUCA FERREIRA, secretário municipal da Cultura, em nota de pesar

O Coutinho foi nosso mestre. Eu tive a feliz honra de produzi-lo na VideoFilmes por 13, 14 anos. Ele era uma pessoa excepcional, de uma inteligência, de uma argúcia, perspicácia, de uma intuição. Aos 81 anos, tinha uma saúde razoavelmente frágil com uma cabeça privilegiada. Tinha uma capacidade única de tirar histórias sinceras de seus entrevistados. Eles se sentiam muito confortáveis em se abrir com ele e esse talvez tenha sido o traço de Coutinho que propiciou documentários memoráveis. Eu fazia a parte mais executiva da produtora, mas ele tinha antes de tudo uma ligação muito especial com o João Moreira Salles. Era uma parceria muito profícua entre o João e o Coutinho, que se gostavam imensamente.

MAURICIO RAMOS, produtor e ex-diretor-geral da VideoFilmes, à Folha

Era o nosso cineasta mais íntegro. Ele inventou um cinema que era só dele. Não trabalhei com ele, mas sempre fomos amigos e trocávamos ideias. Era um cineasta ímpar.

NELSON PEREIRA DOS SANTOS, cineasta, à Folha.

Falar sobre o Coutinho é repetir o que acham dele, porque o Coutinho é uma unanimidade no Brasil, um daqueles poucos diretores, artistas, que chegaram a uma situação em que são unanimidade, não há mais o que falar, talvez seja o melhor cineasta do Brasil. As circunstâncias dessa morte são terríveis. Isso me impressionou muito, não esperava uma coisa dessas. Ele é um cineasta que tem o respeito de todos os cineastas do Brasil, disso eu tenho certeza absoluta.

UGO GIORGETTI, cineasta, à Folha.

Estou arrasado. Ele é o maior cineasta do Brasil. O mais instigante, o que mais construiu desafios para ele mesmo. Idolatro ele. Ele era um amigo. Ele era muito disposto a inovar, sempre se propunha a novos métodos, novas formas. Ele sempre mudava o olhar, ele não acreditava que era o Eduardo Coutinho pronto. Para mim, "Jogo de Cena" muda a história do cinema do mundo: acaba absolutamente com a ideia velha de divisão entre ficção e documentário, por isso que é histórico.

KIKO GOIFMAN, cineasta, à Folha

Que história mais triste. Ele era brilhante, um grande documentarista, grande cineasta do mundo, não só do Brasil. Fizemos uma retrospectiva na Mostra do ano passado com todos os filmes dele. A homenagem a ele foi muito bonita, ele estava muito feliz, se sentiu muito querido e amado por pessoas de várias gerações. As salas da retrospectiva estavam cheias de gente jovem. Ele fez questão de apresentar os filmes em quase todas as sessões. No lançamento do livro dele, teve uma fila enorme. Foi uma despedida muito bonita, se a gente puder pensar dessa maneira.

RENATA DE ALMEIDA, diretora da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, à Folha

Estou chocado. O Coutinho era um dos maiores nomes do cinema. O cinema dele virou um gênero dentro do Brasil. O cinema perde um de seus grandes realizadores. Tínhamos uma relação de admiração. Era uma pessoa maravilhosa, focado no trabalho que fazia, muito sério, compromissado a chegar à verdade. Tinha uma linha de documentário que inspirou outras pessoas. É um tipo de documental aprofundado, algo que mostra muito claramente o foco. Desde o "Cabra" lá atrás, até o "Master", são obras de arte.

CAIO GULLANE, produtor, à Folha

Ele é simplesmente o nosso maior documentarista. Para mim, o maior mestre, a minha referência. Levar o documentário para as salas de cinema e ainda conseguir fazer público... Puxa vida!

LAÍS BODANZKY, cineasta, à Folha

Estou chocado. O Coutinho era um dos maiores nomes do cinema. O cinema dele virou um gênero dentro do Brasil. Tínhamos uma relação de admiração. Era uma pessoa maravilhosa, focado no trabalho que fazia, muito sério, compromissado a chegar à verdade. Tinha uma linha de documentário que inspirou outras pessoas. É um tipo de documentário aprofundado, algo que mostra muito claramente o foco. Seus filmes são obras de arte.

ANDRÉ STURM, diretor do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e da distribuidora Pandora Filmes, à Folha

Eu sempre o chamava de mestre, mas ele era mais que isso. Era um farol. A mente brilhante do nosso cinema brasileiro. A última vez que nos vimos foi na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ele me prometeu ir assistir a "O Homem das Multidões" [dirigido por Gomes e por Cao Guimarães]. Ele cumpriu a promessa e foi. Que honra! Conversamos depois do filme e foi um aprendizado, assim como eram todos as conversas com ele. Toda as vezes em que conversava com o Coutinho aprendia algo sobre cinema e também sobre a vida. A conferência dele na última Flip [Festa Literária Internacional de Paraty] foi histórica. Uma grande aula pra toda a vida.

MARCELO GOMES, cineasta, à Folha

A importância dele é maior do que apenas para o cinema. Ele foi um exemplo de conduta, de ética: o que ele transmite nos filmes não é um efeito cinematográfico, existe uma dimensão ética. Há uma série de pessoas influenciadas pelo estilo dele de ouvir as pessoas, de deixar que falassem o que quisessem. Ele ouvia sem julgar. De alguma maneira o entrevistado sentia que podia confiar nele. Não era segredo cinematográfico: a pessoa sentia que não estava diante de uma câmera, mas de um ser humano. Me lembro de uma imagem no final de "Santa Marta: Duas Semanas no Morro" em que o entrevistado diz: "Ué, já acabou? Vamos continuar falando!". Em "Jogo de Cena" ele se renovou mais uma vez: teve a consciência de que nós interpretamos quando estamos conversando com outro. O cinema dele era de uma grande sofisticação nessa aparente simplicidade.

JOSÉ CARLOS AVELLAR, crítico de cinema, à Folha

Grande perda para as artes. Descansem em paz Coutinho e Hoffman, dois gigantes do cinema.

PEDRO NESCHLING, ator, no Twitter.

Não posso acreditar na morte terrível de Eduardo Coutinho

MIKA LINS, atriz, no Twitter.

Coutinho deixará uma enorme lacuna no cinema documental contemporâneo. Suas obras, porém, permanecerão como clássicos do gênero a inspirar as novas gerações.

MARIO BORGNETH, secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura

Eduardo Coutinho nos deixou documentários de qualidade e beleza, como "Cabra Marcado para Morrer", "Edifício Master", "As Canções" e "Santo Forte", entre outros. Tudo o que fazia era interessante. Gostava de colocar o povo simples, com suas sofrências e esperanças, no centro da cena. E dizendo, 'freireanamente', a sua própria palavra. Para Coutinho, filme era mais para fazer perguntas que para trazer respostas. Deixa-nos com a trágica indagação de como pode ter o enredo de sua criativa existência interrompido assim, de forma tão brutal.

CHICO ALENCAR, deputado (PSOL-RJ), no Facebook.


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