Folha de S. Paulo


Crítica: Em 'Trapaça', diretor David O. Russell faz tributo a Scorsese

Na escolha de seus temas, o cineasta americano David O. Russell tem construído, passo a passo, uma obra sólida e coerente.

Seus três filmes mais recentes trazem protagonistas à margem da sociedade que tentam se reinventar para contrariar a máxima do escritor F. Scott Fitzgerald: "Não há segundos atos nas vidas dos americanos".

Em "O Vencedor" (2010), há um boxeador de origem humilde que precisa se afastar da família para ter a chance de se tornar campeão. Em "O Lado Bom da Vida" (2012), um rapaz bipolar e uma moça com fama de promíscua se unem para ganhar um concurso de dança.

Divulgação
O prefeito Carmine Polito (Jeremy Renner) e Irving Rosenfeld (Christian Bale) em cena de 'Trapaça
O prefeito Carmine Polito (Jeremy Renner) e Irving Rosenfeld (Christian Bale) em cena de 'Trapaça'

Agora, em "Trapaça", temos um casal de golpistas —Irving (Christian Bale) e Sidney (Amy Adams)— que, após ser detido pelo agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper), aceita participar de uma missão para desmascarar políticos corruptos e mafiosos.

Em termos de estilo de direção, Russell ainda não parece ter encontrado um. Cada filme seu parece ter um cineasta diferente atrás das câmeras. No caso de "Trapaça", ele se chama Martin Scorsese.

Há muito de "Os Bons Companheiros" (1990) na história de um casal de vigaristas em apuros, imprensado entre o FBI e a máfia.

Mas o tributo a Scorsese se dá sobretudo nas marcas de estilo, na alternância entre câmera lenta e acelerada, nas pausas narrativas para grande música pop, na mistura de ironia e sanguinolência.

Quando o filme começa a perder o ritmo, da metade para o final, é difícil conter o desejo de que a mesma boa história —passada nos anos 1970 e inspirada numa investigação real do governo americano— fosse filmada pelo Scorsese original.

Mas, para ser justo, é preciso reconhecer que Russell é um artesão acima da média hollywoodiana, competente tanto na caracterização dos personagens quanto na direção de atores.

Além dos três protagonistas, há belos desempenhos de Jennifer Lawrence, como a mulher desequilibrada de Irving, e de Jeremy Renner, como um político populista.

Por fim, e não menos importante, Russell se mostra à vontade nos diversos gêneros pelos quais o filme passeia, da farsa ao drama, do crime ao suspense. Não é pouca coisa.

TRAPAÇA
DIREÇÃO David O. Russell
PRODUÇÃO EUA, 2013
ONDE pré-estreia no Cidade Jardim Cinemark, Eldorado Cinemark, Espaço Itaú - Pompeia, Kinoplex Itaim, Pátio Higienópolis Cinemark, Pátio Paulista Cinemark e outros do circuito; estreia em 7/2
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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