Folha de S. Paulo


'Bateu na trave', diz brasileiro sobre indicação ao Oscar de animação

"Uma História de Amor e Fúria", animação brasileira de Luiz Bolognesi, "por pouco" não foi indicada ao Oscar nesta quinta-feira (16). A avaliação é do próprio diretor, que assistiu ao anúncio na manhã de hoje na produtora Gullane, em São Paulo.

O filme, lançado no ano passado, era um dos 19 finalistas que disputavam uma das cinco vagas entre os indicados de melhor animação do maior prêmio do cinema.

"Acho que bateu na trave. Acho que a gente tinha 5% de chance e não deu, foi por pouco", diz Bolognesi, 48.

Na categoria, foram indicados as produções americanas "Os Croods", de Kirk De Micco e Chris Sanders, "Meu Malvado Favorito 2", de Pierre Coffin e Chris Renaud, "Frozen: Uma Aventura Congelante", de Chris Buck e Jennifer Lee, o japonês "Vidas ao Vento", de Hayao Miyazaki (" A Viagem de Chichiro") e o francês "Ernest et Célestine", de Stépphane Aubier, Vincent Patar e Benjamin Renner.

"Frozen", um dos maiores fenômenos de bilheteria da Disney, venceu o Globo de Ouro de melhor filme de animado na semana passada.

Antes do anúncio das indicações, Bolognesi havia dito à Folha que tinha esperanças. "O Brasil não é visto como polo de animação, mas se o filme for indicado, o mundo todo vai olhar para a gente", afirmara. "As pessoas sempre perguntam: 'mas tem longa-metragem de animação na América do Sul?'."

Conseguir uma vaga entre os indicados, segundo Bolognesi, daria um "boom" na carreira de quem produz animações. "O mercado do audiovisual no Brasil está bombando. Hoje tem mais filme do que mão de obra. Tive até problema para conseguir segurar a minha equipe", afirma.

O filme de Bolognesi perpassa 600 anos de história do Brasil, começando na época da colônia e chegando até um futuro sombrio no Rio de Janeiro. O longa é dublado por Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro. "É uma história radical, que não é voltada para crianças. Talvez por isso tenham gostado."

Em oito semanas em cartaz no Brasil, o filme levou cerca de 32 mil espectadores ao cinema.

Revistas americanas especializadas elogiaram. "Um raro exemplo de animação feita para divulgar ideias políticas, sua mensagem é transmitida com facilidade graças a potentes doses de uma mitologia colorida", apontou a revista "The Hollywood Reporter".

A inspiração para a história, que aborda massacre de índios, rebelião de escravos e até milícias futuristas, é antiga. "Fiz antropologia, convivi com os índios. Sempre quis contar a história do país com a mitologia tupi."

A produção levou seis anos por causa da trabalhosa técnica escolhida, que dispensou computação gráfica e quase levou a produtora de Bolognesi à falência, segundo Bolognesi. "Tive que escrever muito roteiro para fora para pagar o pessoal." O filme custou R$ 4,5 milhões.

"Ao terminar, disse a mim mesmo que nunca mais faria uma animação. Quando vencemos em Annecy, a equipe chegou para mim e disse: 'Agora não depende mais só de você'."
Bolognesi já prepara uma segunda, com planos de lançá-la entre 2018 e 2019. Vai se chamar "Viajantes". "Vai ser sobre como as crianças conseguem superar as hostilidades das grandes cidades por meio das fantasias", explica.


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