Folha de S. Paulo


Governo manobra para salvar Cinemateca, que completa um ano de crise administrativa

A Cinemateca, instituição responsável por preservar o cinema brasileiro, completa neste mês um ano de crise administrativa, com 26 funcionários —um quinto dos 132 que havia em janeiro do ano passado-, e dois planos de salvamento.

O primeiro deles foi a realização de dois pregões, em dezembro, para a contratação de empresas que recuperariam cinejornais históricos da companhia Atlândida e aproveitariam a mão de obra para outros serviços. A ideia, segundo a Folha apurou, era readmitir funcionários cujos contratos haviam acabado de terminar. Nenhuma empresa, porém, cumpriu os requisitos exigidos nas licitações.

O outro plano, agora em curso, envolve a RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), organização que, entre outros projetos, implanta cinemas em universidades e exibe filmes do acervo da Cinemateca. Desde 2011, o órgão mantém parceria com as pastas da Cultura e da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Editoria de Arte/Folhapress

O MinC (Ministério da Cultura) informou que a Cinemateca recebeu um "aporte de 28 funcionários" da RNP.

A rede, porém, nega ter cedido funcionários, mas diz que cuidará de um edital no valor de R$ 600 mil para "catalogação, recuperação e digitalização" do acervo da Cinemateca. O dinheiro sai do próprio MinC, segundo José Luiz Ribeiro Filho, diretor de serviços da RNP.

MODELO ANTIGO

O plano que envolve a rede de pesquisa é parecido com o modelo anterior de gestão.

Até o final do ano passado, parte dos funcionários da Cinemateca era contratada pela SAC (Sociedade Amigos da Cinemateca), organização que recebia repasses do governo por um convênio que previa gestão conjunta.

A parceria, porém, começou a ser investigada pela Controladoria-Geral da União em fevereiro do ano passado. Desde então, os repasses do MinC estão congelados. Antes disso, em janeiro, o MinC já havia tirado do cargo o diretor da Cinemateca, Carlos Magalhães, primeiro ato da crise que se arrasta até agora.

O MinC só indicou um novo diretor em outubro. Quando assumiu o cargo, em novembro, o goiano Lisandro Nogueira disse que 17 funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego estariam na instituição a partir daquele mês, num convênio entre a pasta e o MinC. Eles nunca chegaram -e o ministério informou que o anúncio foi um "equívoco" de Nogueira.

Em dezembro, a biblioteca da instituição foi fechada, duas semanas antes do recesso do fim de ano, por falta de funcionários. Pelo Twitter, a pasta agora anuncia "programação intensa de atividades" para 2014. Por e-mail, o ministério afirma que a programação das salas de cinema será retomada na segunda, dia 13. Uma das salas está fechada desde maio, também por falta de funcionários.

O laboratório de imagem e som, que faz preservação e restauração, está parado. Seu coordenador, Teder Morás, diz que o local está em "processo de formação de equipe" e deve retomar as atividades na semana que vem.

Durante toda a semana, o MinC foi procurado para responder a questões sobre a contratação de funcionários e a participação da RNP na Cinemateca. Informou que o diretor da Cinemateca "falará em outra oportunidade".


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