Folha de S. Paulo


Madri expõe trabalhos fotográficos da nova geração

No térreo da Tabacalera, antiga fábrica de fumo transformada em centro de atividades culturais em Madri, a curadora Rosa Olivares realiza a montagem da exposição "Contexto Crítico - Fotografia Espanhola Século XXI".

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A mostra, que fica em cartaz até 23 de fevereiro, reúne 20 fotógrafos com menos de 40 anos e diferentes vertentes dessa geração de artistas espanhóis.

Em comum, o que o trabalho desses novos autores têm, para a curadora, são características cada vez mais globais.

As linguagens reunidas vão desde uma estética pop e quase publicitária, como no caso dos painéis de carros destruídos fotografados por Jorge Fuembuena, até os retratos de Ali Hanoon, artista que mostra influência forte da fotografia alemã.

"Eles já não estão tão apegados ao local, ao pequenino. Estes fotógrafos abriram janelas, e isso é muito importante", avalia Olivares.

Ao mesmo tempo em que exalta a internacionalização desses artistas, ela faz um contraponto.

REPETIÇÃO

"É preciso levar em conta que a maioria desses jovens repete os esquemas de gerações anteriores", afirma.

"É uma repetição em torno de temas como a autobiografia, o mundo interior, o álbum familiar, a memória, a representação do real e do falso, todo esse tipo de estrutura."

De fato, o trabalho do teórico e fotógrafo catalão Joan Fontcuberta é citado com frequência no meio, quando se trata de explicar o crescimento da geração surgida após os anos 2000.

Fontcuberta, 58, iniciou suas atividades artísticas no final da década de 1970. Desde então, segue publicando livros e textos.

Para o fotógrafo Toni Amengual, além da ideia disseminada pelo teórico de que a fotografia, em última instância, representa sempre uma mentira, a atitude de Fontcuberta também serviu de inspiração.

"Independentemente das temáticas, ele é um exemplo claro de que a dedicação, o esforço e a perseverança acabam por dar resultados", conta ele, que é criador do festival de fotografia Visionaris.

Fontcuberta recebeu neste ano o Hasselblad Award, prêmio que distribui cerca de R$ 353,5 mil e, em edições passadas, contemplou a norte-americana Nan Goldin e a francesa Sophie Calle.

A presença de artistas espanhóis em premiações vem crescendo desde o ano passado, quando Cristina de Middel foi finalista do Deutsche Börse Photography, concurso importante dedicado às maiores contribuições para a fotografia na Europa.

Em novembro, Óscar Monzón, 32, autor do fotolivro "Karma", que documenta a suposta intimidade de motoristas e passageiros no interior de seus carros, ganhou a disputa promovida pela feira de arte Paris Photo na categoria destinada às publicações de estreia.

Editoria de Arte/Folhapress

DIVERSIDADE

Ricardo Cases, autor de "Paloma Al Aire", destaca que algumas dessas obras têm um viés crítico sobre a sociedade espanhola. Mas o interessante, para ele, "é a variedade de propostas dessa nova geração".

Enquanto a crise reaparece em "The Pigs", de Carlos Spottorno -que simula uma edição da revista "The Economist" para satirizar a visão estereotipada da mídia sobre os países europeus empobrecidos-, fotolivros como o de Cases partem de uma história divertida sobre uma corrida de pombos para então virar um estudo sobre as cores.

A diversidade de técnicas e temas marca a nova fotografia espanhola.

Há tanto trabalhos subjetivos que buscam se aproximar de assuntos imateriais, como a distância em "Almost There", de Aleix Plademunt, quanto obras de acento mais documental, caso dos retratos de prostitutas em "The Waiting Game", de Txema Salvans. "Há uma concepção muito mais livre de criar, não há medo de romper a imagem e fraturar a fotografia como se fosse colagem", diz o fotógrafo e professor Fosi Vegue.


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