Folha de S. Paulo


Crítica: Lista de 101 hits do funk compensa omissões com alguns achados

Com formato pop e ordenado de forma não cronológica, "101 Funks que Você Tem que Ouvir Antes de Morrer" não tem pretensões historiográficas --muito menos antropológicas, como o pioneiro "O Mundo Funk Carioca" (1988), de Hermano Vianna, que merecia uma nova edição.

Mas, nos breves textos sobre cada uma das músicas selecionadas, identificam-se os momentos chave da trajetória do ritmo, como o surgimento dos vários subgêneros, o sucesso do funk pop de Claudinho e Buchecha e o fim da hegemonia da batida reta do Miami Bass em prol do sinuoso tamborzão (o "tchu, tchá"), consagrado por "Cerol na Mão", do Bonde do Tigrão.

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A decepção inevitável por algumas omissões (Gaiola das Popozudas, por exemplo) é recompensada pela presença de hits mais obscuros, mas fundamentais, como o inclassificável "Rap do Trabalhador", do vendedor ambulante de balas MC Magalhanze, e o obsceno (e obscenamente engraçado) "Chatuba de Mesquita", de MC Duda --que, informa o livro, será tema de um documentário em breve.

Editoria de arte/Folhapress

Talvez graças à sua evolução contínua, o gênero, surgido três décadas atrás, é perpetuamente associado à juventude e continua sendo rejeitado por aqueles que ouvem "de tudo, menos funk" ou que, num desdém ligeiramente mais sofisticado, sentenciam que "funk, só James Brown".

Na melhor das hipóteses, a parcela antifunk do público tem consumido o ritmo como "viral trash", caso dos vídeos do Bonde das Maravilhas e suas divertidas coreografias adolescentes para os quadradinhos "de Oito" e "Tipo Borboleta".

Ainda na semana passada, a notícia da proibição de bailes funk nas ruas de São Paulo foi comemorada pelos seguidores da Folha no Facebook com mais de 22 mil "curtidas" e 8.000 compartilhamentos.

A outra queixa comum, contra quem ouve funk em público sem fones de ouvido, o jornalista Rafael de Pino dá uma resposta atrevida no prefácio do livro: "O funk é um fenômeno de grupo. Um fone de ouvido não resolve."

Ou, como entoam as torcidas do Rio para tirar sarro da derrota do time rival, em referência a um funk de MC Marcelly anterior a "Bigode Grosso", celebrizado por Neymar: "Uh, aceita!"

101 FUNKS QUE VOCÊ TEM QUE OUVIR ANTES DE MORRER
AUTOR Julio Ludemir
EDITORA Aeroplano
QUANTO R$ 30 (268 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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