Folha de S. Paulo


Funk pode perder sua essência ao migrar para o mercado formal, diz pesquisador

O baile funk mudou de endereço. Se "não existe funk sem baile", como diz o pesquisador Julio Ludemir, é o próprio gênero que passa por uma transformação e sofre o risco de perder sua essência.

O estilo musical que ganhou força no fim dos anos 1980 nos morros do Rio, hoje, faz parte da vida no asfalto. "É contraditório: o funk está se firmando no mercado formal, mas é asfixiado na favela, o que atrapalha a sua renovação", diz Ludemir, 53.

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Escritor e produtor cultural, esse carioca passou dois anos envolvido na pesquisa que resultou no livro "101 Funks que Você Tem que Ouvir Antes de Morrer" (ed. Aeroplano), recém-lançado.

Editoria de arte/Folhapress

Enquanto os bailes estão restritos nas comunidades cariocas onde se instalaram as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) --por resolução do governo, só podem ocorrer com autorização policial--, o som funk conquista espaço em áreas nobres.

Nas chamadas festas de "playboy" (zona sul do Rio), há lugar garantido para hits com roupagem pop, como os sucessos dos cantores Naldo Benny e Anitta. Ela, com "Show das Poderosas", vendeu mais de 120 mil cópias e levou disco de platina.

"O funk ainda sofre discriminação. No Rio, é assim: quem cuida é a Secretaria de Segurança Pública e não a de Cultura", diz DJ Marlboro, que lançou em 1989 a primeira coletânea do gênero.

Para Ludemir, há o risco de o funk seguir o caminho do samba que, segundo ele, desapareceu da favela: "Foi para a Lapa, e um favelado não pode pagar R$ 80 por um show lá", diz ele, que é o criador do concurso de dança Batalha do Passinho.

Em São Paulo, onde domina o funk ostentação, os bailes também estão em xeque.

Na última sexta, foi aprovado na Câmara Municipal um projeto de lei que proíbe a realização desse tipo de festa nas ruas. A proposta depende da sanção do prefeito.

Enquanto as letras falam de consumo, o baile migra para os shoppings. No último sábado, cerca de 6.000 jovens se reuniram no estacionamento do shopping Metrô Itaquera, na zona leste. O "rolezinho", como é chamado o encontro, terminou com arrastão e dois presos.


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