Folha de S. Paulo


Legado de mestre russo do teatro é revisto em seminário e espetáculo

A herança de Constantin Stanislavski, o mestre russo que concebeu um método revolucionário de interpretação teatral, é investigada através de uma série de debates e palestras que acontecem de hoje a quinta-feira em São Paulo.

Artistas de relevância da cena brasileira, como Eduardo Tolentino, Sergio de Carvalho e Marco Antonio Rodrigues, ao lado de Marie-Christine Autant-Mathieu, pesquisadora francesa que leciona na Sorbonne, realizam as atividades.

Ao mesmo tempo em que celebram seus 150 anos, eles buscam entender o que ainda se pode aprender do sistema fundado pelo russo sobre a arte do ator.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Os atores Antonio Miano (esq.) e Kauê Telloli em cena da peça
Os atores Antonio Miano (esq.) e Kauê Telloli em cena da peça "Caixa"

"Caixa", livre recriação da peça "Tape", do americano Stephen Belber, põe em prática estudos do diretor, ator e pedagogo russo. O espetáculo cuja estreia aconteceu na semana passada e fica em cartaz até quinta-feira, foi concebido pelo diretor Diego Moschkovich tendo como base a metodologia de improvisações criada durante os últimos anos da vida de Stanislavski.

Ambos os eventos evidenciam que o sistema no qual o ator empresta vivências pessoais para compor um personagem, método desenvolvido pelo russo que após ser absorvido pela escola norte-americana de interpretação Actors Studio tornou-se célebre no Brasil e no mundo, foi ultrapassado pelo próprio Stanislavski no final de sua vida.

"A imaginação passou a ser uma ferramenta mais importante do que as referências pessoais de um ator", diz Ney Piacentini, integrante da Cia. do Latão e idealizador do seminário "150 Anos de Stanislavski". Nele, além de mediar as conversas, também ministra uma oficina para atores e diretores.

Tanto a peça quanto o seminário chamam atenção para sistemas criados pelo teórico russo no final de sua vida, os quais se estruturam tendo como base a ação e não aspectos psicológicos da atuação. Sobretudo em sua última fase de vida, o diretor russo passou a acreditar que a palavra no teatro deveria surgir em consequência de um ato.

"Stanislavski buscou autenticidade em cena, queria um teatro vivo. Nele, a fala surge em decorrência de uma ação concreta, como acontece na vida. A gente sabe o que quer fazer e vai compondo nossas palavras na medida em que alcança nosso objetivo", explica Moschkovich, diretor de "Caixa" e pesquisador das heranças de Stanislavski no país. Ele divide com Tolentino uma mesa sobre atualidade e prática do sistema de interpretação do mestre russo no seminário.

"A presença dos atores ganham outra qualidade quando eles agem de verdade em cena. A ação passa a existir de fato e a plateia acompanha o desenvolvimento de um acontecimento vivo e não de uma historinha", acredita ele.

150 ANOS DE STANISLAVSKI
ONDE SP Escola de Teatro (Praça Roosevelt, 210, São Paulo; tel. 0/xx/11/3775 -8600)
QUANDO de ter. a qui., 19hs; até 12/12
QUANTO gratuito

CAIXA
ONDE Teatro Pequeno Ato (Rua Doutor Teodoro Baima, 78, São Paulo; tel. 0/xx/11/99642-8350)
QUANDO de ter. a qui., 21h; até 12/12
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 16 anos


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