Folha de S. Paulo


'Comprar roupa é um suplício', diz cineasta que fez filme sobre o tema

O périplo em busca de roupas que caiam bem virou até enredo de filme. No documentário "Fora do Figurino - As Medidas do Jeitinho Brasileiro", lançado neste ano, o cineasta Paulo Pélico mostra que o país nunca teve um estudo para apontar os padrões de medida dos brasileiros.

As referências das confecções, indica o filme, são tabelas estrangeiras. "As grifes têm contradições e o resultado é esse aborrecimento: em toda loja, a pessoa tem que provar a roupa. Isso tem um impacto econômico."

Estudo inédito revela que homem brasileiro é mais baixo que roupas vendidas por grifes
Confira parcial de estudo sobre as medidas do corpo do homem brasileiro

Pélico, 57, cruzou o país para fazer o filme. "Em Manaus, não achei ninguém que não tivesse problemas", diz ele, contando sobre a importância do serviço "UTI do jeans", que funciona na cidade para encurtar as barras das calças.

De estatura mediana (1,75 m), o cineasta conta que até para ele "comprar roupas é um suplício". "Não tem peça minha que não seja ajustada. A indústria do vestuário no Brasil não sobreviveria sem esse exército de costureiras."

O estilista Bruno Passos, dono da marca online Conto Figueira, diz que criou no site uma tabela com as medidas de todas as peças para evitar contratempos. "É um facilitador. Minha margem de troca não chega a 10%."

Segundo ele, a modelagem no país tende a ser maior por tradição. "Era sempre a mãe que comprava, e em tamanhos maiores por economia, para 'não perder' a roupa."

O estilista João Pimenta, que vende peças em geral menores do que a média, diz que investir em roupas em formato tubular foi opção para o corpo brasileiro, com tórax e braços grandes.
"Os homens estão com uma mania de academia que temos de acompanhar."

Pimenta diz ver vantagem no fato de o brasileiro não corresponder, segundo ele, àquele perfil "elegante como o europeu" ou "grande como o americano". Segundo diz, "a roupa cai melhor em quem tem bunda", ainda que seja mais difícil costurar. "O homem brasileiro não é gostoso, é popozudo."

ROUPA DE CRIANÇA

"É um desgosto", afirma o designer gráfico Yuri Rios, 23, 1,54 m de altura. "Já cheguei a rodar quatro shoppings e não achar nenhuma roupa que me coubesse."

Ele conta que já teve de recorrer a camisetas infantis ("para crianças de 12 anos") e calças da mãe. "O problema é que o cavalo aperta, e o bolso é pequeno", diz.

Avener Prado/Folhapress
O designer gráfico Yuri Rios, 1,54 m, em sua casa, em São Paulo
O designer gráfico Yuri Rios, 1,54 m, em sua casa, em São Paulo

Camisa social, ele tem duas -uma delas, de mulher. "Já sofri preconceito", afirma Rios. "Uma vez peguei calças femininas e experimentei no provador infantil. A vendedora me mandou sair e disse que as peças não eram para mim."

O relações-públicas da Way Model, José Macedo, 28, diz comprar peças no exterior, em redes como Uniqlo e H&M, que têm "modelagem mais europeia e fit" -tudo para fugir dos ajustes.

"Se você compra algo de um estilista e ajusta, perde a identidade da roupa", diz o rapaz, de 1,66 m. "Ser baixinho só é bom no avião."

OUTRO LADO

Das 11 grifes que tiveram medidas de calças e camisas M analisadas pela reportagem, Ellus, Richards, Riachuelo e VR afirmam não ver necessidade de ajustar sua modelagem média ou de incluir o tamanho PP em sua grade.

A Ellus diz que sua tabela é baseada em pesquisas feitas com o consumidor. "A demanda por PP é extremamente baixa", diz a nota. A Richards afirmou em nota: "Mesmo o homem brasileiro sendo menor, nos preocupamos em alongar sua silhueta em camisas", diz a marca.

Em nota, a VR afirma que seu "slim fit" cai bem para um consumidor baixo.

A Riachuelo afirma usar uma média mais alta pois atende a todo o Brasil.

A Sérgio K diz que há demanda por PP e que oferece produtos para homens menores. A Conto Figueira diz que não há procura.

Alexandre Herchcovitch, Noir Le Lis, Reserva, Crawford e Osklen não responderam até a conclusão desta edição.

ONDE ACHAR ROUPAS MENORES

João Pimenta
Os modelos tubulares e o recorte transpassado dos blazers de seis botões devem ser tendência na próxima estação

Alexandre Herchcovitch
Passará a produzir o tamanho PP em sua linha. A coleção de inverno 2014, inspirada em Lampião, dá início à empreitada

Sérgio K
O Midas da moda masculina "engomadinha" bota fé em linhas esporádicas no tamanho PP

Topman
Além do "slim fit", justo e curto, há uma preocupação extra com os materiais, que duram mais de uma estação

(Pedro Diniz, 1,69 M, e Guilherme Genestreti, 1,67 M)


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