Folha de S. Paulo


Premiado em Cannes, 'Azul É a Cor Mais Quente' estreia com romance entre garotas

Adèle beija Emma. A câmera quase encosta nas duas, que aparecem nuas em seguida. Elas trocam carícias e soltam gritos abafados, misturados aos estalos das bocas.

Emma faz sexo oral em Adèle, que agarra os cabelos azuis de Emma. A câmera passeia entre as duas, próxima, buscando expressões.

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O ritmo fica mais acelerado, os movimentos, mais bruscos, e os gemidos, mais altos. Não há música, o que intensifica o realismo.

Divulgação
As atrizes Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux em cena do filme 'Azul É a Cor Mais Quente', de Abdellatif Kechiche
As atrizes Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux em cena do filme 'Azul É a Cor Mais Quente', de Abdellatif Kechiche

Os quase sete minutos da cena de sexo do longa francês "Azul É a Cor Mais Quente", que estreia hoje, viraram alvo de críticas de feministas e lésbicas.

Segundo esses grupos, houve exploração do corpo das atrizes como objetos sexuais e apelo pornográfico, além de a cena não traduzir a realidade de uma relação entre mulheres.

A crítica do "New York Times" Manohla Dargis se disse desapontada porque o diretor Abdellatif Kechiche "ignorou questões que envolvem a representação do corpo feminino no cinema".

Em entrevista à Folha, Kechiche rebateu as críticas: "Quem me julgou não aceita o fato de um diretor retratar o amor entre duas mulheres".

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o filme exala sensualidade até em cenas casuais, como quando Adèle se lambuza de macarrão e o diretor gruda a câmera nos lábios dela.

A atriz de origem grega Adèle Exarchopoulos, 20, empresta o nome à protagonista, inspirada nos quadrinhos de Julie Maroh. Ela interpreta uma estudante de literatura em crise, que recusa o interesse de um colega do colégio ao cruzar olhares com Emma (Léa Seydoux), a garota de cabelos azuis.

A aproximação entre as duas se dá num bar frequentado por lésbicas. Depois, um encontro no parque e o primeiro beijo. O interesse curioso de Adèle se torna uma paixão avassaladora.

O mundo mais prosaico dela, no entanto, destoa do ambiente intelectual de Emma.

Na tela, a pele das atrizes, que não usaram maquiagem nas filmagens, parece vibrar.

"Percebi que o diretor queria que eu mexesse no cabelo, brincasse com a boca", diz Adèle, esclarecendo que havia uma orientação nesse sentido, mas que ela também ajudou a modelar o jeito sensual da personagem.

Kechiche afirma que se trata de um ritmo natural baseado na sua percepção. "Busquei os melhores ângulos a fim de retratar as expressões que não podem ser transmitidas pelas palavras", diz.

Após a premiação em Cannes, a atriz Léa Seydoux acusou o diretor de truculência e assédio moral.


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