Folha de S. Paulo


Show com holograma mostra Cazuza em escala reduzida

Se "ressuscitar" Cazuza em forma de holograma mais de 23 anos após sua morte já causaria comoção, levar a imagem ao palco no dia da morte de seu pai foi motivo de mais emoção ainda para os envolvidos no tributo.

Com a morte de João Araújo --um dos executivos mais importantes da indústria fonográfica brasileira--, ocorrida na manhã deste sábado (30), o show em homenagem ao filho, à noite, em São Paulo, ganhou contornos de mais sentimentalismo nos bastidores.

"Ficamos estarrecidos com essa coincidência", disse George Israel, saxofonista da banda Kid Abelha e diretor artístico do evento, antes de a apresentação começar. "Em vez de um minuto de silêncio, decidimos fazer uma hora e meia de barulho como homenagem ao João", definiu ele, que frequentava a casa da família.

Gal Costa, que participou cantando "Brasil", "Codinome Beija-Flor" e "Preciso Dizer que Eu te Amo", lembrou antes do show, no camarim, a participação de João Araújo no início da sua carreira. "Foi ele o responsável pelo 'Domingo' [álbum de 1967, o primeiro de Gal]. Ele era presidente da [gravadora] Philips e chamou a mim e a Caetano [Veloso] para fazer o disco."

"Essa coincidência é muito estranha", disse também o cantor Paulo Ricardo, que interpretou seis músicas no show.

O produtor carioca foi homenageado com um pequeno discurso no início do evento, que começou por volta das 21h no Parque da Juventude, zona norte de São Paulo. Nilo Romero, amigo de Cazuza e diretor musical do show, lembrou trecho da letra da canção "Ritual": "Pra que chorar / A vida é bela e cruel, despida / Tão desprevenida e exata / Que um dia acaba."

A mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, que compareceria ao evento, cancelou a vinda. Uma mensagem dela, gravada anteriormente à morte, foi exibida no telão, lembrando que neste domingo (1º) é celebrado o Dia Mundial de Luta contra a Aids.

As cerca de 29,6 mil pessoas --segundo a organização, que estimava receber 40 mil-- que compareceram ao Parque da Juventude para assistirem à apresentação gratuita puderam conferir, ao todo, mais de 20 canções, os principais hits de Cazuza.

Acompanhando o holograma e tocando também no restante do tempo, estava uma banda formada por amigos do músico: além de Israel, Arnaldo Brandão (baixista, coautor de "O Tempo Não Para"), Guto Goffi (baterista do Barão Vermelho), Leoni (parceiro em "Exagerado"), Rogerio Meanda (guitarrista da Blitz, que compôs "O Nosso Amor a Gente Inventa") e Nilo Romero (último a dirigir o cantor no palco e diretor musical do tributo).

O ponto alto da noite, a projeção do cantor em três dimensões, no entanto, surgiu em tamanho reduzido, apenas no fundo do palco, por 20 minutos, cantando "Exagerado", "Faz Parte do Meu Show", "Amor Amor", "O Tempo Não Para" e "Brasil", com áudio extraído de gravações originais do próprio cantor, que completaria 55 anos em 2013.

Mesmo na imagem dos telões, não era possível distinguir traços da fisionomia de Cazuza no holograma, mostrado sempre à distância, dançando da forma que fazia o compositor morto em 1990, aos 32 anos. A reprodução usava como figurino calça jeans, camiseta branca e faixa vermelha na testa.

A imagem criada digitalmente só pareceu mais real, quando, em alguns momentos, parte dos músicos da banda tocou também no fundo do palco.

O show, intitulado GVT Music Live - Cazuza, será reapresentado gratuitamente também no Rio de Janeiro no dia 19 de janeiro, na praia de Ipanema. O projeto tem custo de mais de R$ 8,5 milhões, com parte incentivada via Lei Rouanet.


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