Folha de S. Paulo


Produtor musical João Araújo, pai de Cazuza, morre no Rio aos 78

Um dos executivos mais importantes da indústria fonográfica brasileira, o produtor carioca João Araújo, 78, pai do cantor Cazuza, morreu às 6h30 da manhã deste sábado (30), em seu apartamento no Rio, vítima de ataque cardíaco.

Araújo estava com a saúde fragilizada desde que sofreu uma queda há três semanas, em Angra dos Reis, na qual fraturou a cabeça do fêmur. Internado para uma cirurgia, teve um problema nos rins detectado pelos médicos e passou por hemodiálise.

Voltou para casa na última segunda-feira (25). "Há dois dias, fumou nove cigarros e tomou um uísque, já proibido pelos médicos. Ele já estava sentindo [que morreria]", disse o deputado federal Miro Teixeira (Pros RJ), um dos amigos que compareceram ao velório, que acontece nesta tarde no cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio.

O enterro está marcado para as 17h, no mesmo jazigo em que está Cazuza.

Caçula de uma família pernambucana com seis filhos, João Alfredo Rangel de Araújo nasceu no Leblon em 2 de julho de 1935 e começou sua carreira na indústria musical aos 14 anos, como auxiliar de imprensa na Copacabana Discos, que tinha em seu elenco estrelas como Ângela Maria e Elizeth Cardoso.

Passou por diversas gravadoras, incluindo a Odeon e a Philips, na qual foi diretor artístico e ajudou a lançar artistas como Caetano Veloso, Gal Costa, Jorge Ben e Djavan.

Participou da criação da Som Livre, em 1969. Na gravadora ligada às Organizações Globo, que comandou por quase quatro décadas, lançou bem-sucedidas trilhas de novelas e lançou fenômenos de venda como Xuxa.

Reprodução/cazuza.com.br
João Araujo com Cazuza
João Araujo com Cazuza

Sua história como empresário musical ficou em segundo plano a partir do sucesso de Cazuza (1958-1990), seu único filho, nascido do casamento de mais de cinco décadas com Lucinha Araújo.

Temendo acusações de nepotismo e favorecimento, Araújo não quis ajudar o filho a princípio, mas foi convencido pelo produtor Guto Graça Melo e pelo jornalista Ezequiel Neves a lançar o disco de estreia do Barão Vermelho, em 1982.

A morte de Cazuza foi um baque do qual Araújo jamais se recuperou --evitava assistir a homenagens ao filho, como o musical teatral atualmente em cartaz.

Além de presidir a Som Livre, Araújo também foi eleito presidente de honra da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), em 2007 --mesmo ano em que recebeu o prêmio Grammy Latino por sua contribuição à indústria musical.

"A trajetória de João Araújo confunde-se com a história da música brasileira moderna e seus principais movimentos musicais das últimas décadas, desde a Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicalismo e a consolidação do pop rock brasileiro. Sua contribuição para o fortalecimento da indústria da música no Brasil é inestimável", disse Paulo Rosa, presidente da ABPD na ocasião.

Em nota, a Som Livre lamentou a morte de Araújo, a quem chamou de "o mais importante executivo" de sua história.

"Ao longo de mais de 35 anos de dedicação à empresa, João estabeleceu as bases da Som Livre, que deve a ele sua história e seu sucesso. João lançou as mais importantes trilhas sonoras da teledramaturgia brasileira e abriu portas para o sucesso de alguns dos principais nomes da música nacional como Novos Baianos, Djavan, Barão Vermelho e, claro, seu querido filho Cazuza. Seu legado como executivo e produtor para a música brasileira pode ser comparado, mas não será superado. Seus amigos, ex-funcionários e admiradores aqui reunidos lhe desejam descanso em paz por eternas e maravilhosas trilhas", diz o comunicado da gravadora.


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