Folha de S. Paulo


Maestro tem projeto aprovado pela Lei Rouanet sem saber

O Ministério da Cultura aprovou dois projetos de turnês de concertos do maestro João Carlos Martins dos quais o músico nem sequer tinha conhecimento. Ele soube das propostas após ter sido procurado pelo jornal "O Globo", que noticiou a aprovação.

Essa é uma etapa anterior à autorização para captar recursos via Lei Rouanet.

Os dois projetos, elaborados pela produtora Rannavi Projeto Cultural, estão orçados em cerca de R$ 25,3 milhões e incluem 25 concertos regidos pelo maestro, que seriam realizados em várias cidades no ano que vem.

Zanone Fraissat/Folhapress
O maestro João Carlos Martins na pré-estreia do filme 'Flores Raras', no shopping Cidade Jardim, em agosto
O maestro João Carlos Martins na pré-estreia do filme 'Flores Raras', no shopping Cidade Jardim, em agosto

"Não conheço essa produtora, nunca recebi nem sequer um e-mail dela", diz Martins à Folha. "Eu não teria nem tempo para fazer turnês desse tamanho."

Anteontem, o maestro encaminhou dois ofícios à Sefic (Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura), órgão da pasta, solicitando o cancelamento dos projetos. O primeiro, orçado em R$ 19,9 milhões já foi suspenso. O outro, de R$ 5,3 milhões, ainda não.

No primeiro projeto, o maestro é apresentado como diretor artístico dos 17 concertos que passariam por sete capitais. Logo abaixo, o texto que descreve o músico é o mesmo que pode ser encontrado no site Wikipédia.

O segundo projeto enumera shows do maestro nas cidades de "São Paulo, Paulínea [sic], Américo Brasiliense, Taubaté e Manaus".

Martins, que já captou recursos pela Rouanet, diz que as turnês não custariam tanto. "Uma temporada não passa de R$ 500 mil, R$ 600 mil."

A produtora Rannavi teve outros dois projetos aprovados no ano: a temporada de seis apresentações de música instrumental (R$ 4,44 milhões), e o "show com a maior coleção de obras do aclamado mestre surrealista Salvador Dalí", de R$ 5,1 milhões.

A reportagem não conseguiu contatar a produtora, sediada em São Paulo e registrada na Receita Federal no ramo de "produção e promoção de eventos esportivos".

OUTRO LADO

A Sefic informa que a simples aprovação desses projetos não os habilita a captar recursos automaticamente.

"Após aprovação do projeto, o proponente é diligenciado a apresentação de documentos [...] visando a publicação do ato de aprovação no Diário Oficial e [que] dará aptidão ao proponente a captar recursos", informou, por e-mail, Henilton Menezes, titular da secretaria."Hoje, recebemos manifestação formal do maestro João Carlos Martins informando que não tinha anuência do projeto e solicitando seu cancelamento. Providência tomada hoje pela nossa equipe técnica."

Até o fechamento da edição, Menezes ainda não havia respondido acerca dos outros três projetos da Rannavi.


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