Folha de S. Paulo


Mulheres entram sutilmente no reino masculino da música dance

Quando a dupla de DJs Nervo, as gêmeas australianas Olivia e Miriam Nervo, começaram a tocar, três anos atrás, costumavam chocar as pessoas que as viam pela primeira vez.

"Nós chegávamos ao aeroporto, alguém nos apanhava e logo dizia: 'Vocês são a Nervo?'", disse Olivia, que atende por Liv. Os promoters não podiam acreditar que a dupla de DJs não era de homens, mas de garotas atraentes.

A Nervo hoje se apresenta regularmente em grandes festivais e clubes, mas as irmãs ainda são um raro fenômeno feminino na música dance eletrônica.

Em uma nova pesquisa da "DJ Magazine" sobre os cem principais DJs do mundo, Nervo é o número 16 e uma das três participações femininas da lista.

Cerca de cinco anos depois que a última onda de música dance eletrônica se tornou um grande negócio, a mesa de DJ ainda é um reino masculino.

Cassy Britton, mais conhecida como Cassy, DJ e produtora de Viena, chamou a cena de "um clube de meninos, em certo sentido". "Nenhuma mulher está naquele nível 'top'", disse ela. "Então, não há uma mulher que ganhe muito dinheiro como DJ. Nenhuma."

Os motivos citados incluem uma indústria dirigida por homens, a falta de modelos femininos e um estilo de vida que não combina com ter uma família.

Mas as irmãs Nervo e Britton estão desfrutando uma carreira ascendente, assim como a artista techno de Londres Nicole Moudaber e a DJ techno russa Nina Kraviz.

Britton, 39, estudou violão clássico durante sete anos. Ela vem se apresentando como DJ desde o final dos anos 1990 e produziu um CD mix para uma duradoura série do clube londrino Fabric. Seu mentor foi Electric Indigo, outra DJ mulher.

Britton mudou-se para Berlim em 2003 e se tornou residente no Panorama Bar, dentro do clube Berghain. Seu som, um híbrido de deep house e techno áspero, com inspiração funk, toca bem em grandes clubes assim como em eventos mais íntimos.

Ela também trabalha no Rex Club em Paris e no Trouw em Amsterdã. Tem tocado no Fabric desde 2005.

Ela se apresenta três ou quatro vezes por semana em diferentes cidades, às vezes em diferentes países.

No circuito da música dance comercial, a Nervo está se infiltrando nas apresentações masculinas. "Elas entraram na lista Top 20 dos DJs que estão sendo contratados", disse Paul Oakenfold, 50, influente DJ e produtor que tem apoiado a carreira da Nervo. O single meio pop da Nervo "Hold On" chegou ao número um na parada de dance/club em junho.

O fato de as irmãs serem fotogênicas ajuda.

No entanto, Liv Nervo disse que elas não querem enfatizar demais sua imagem. "Fazemos questão de não mostrar muito o corpo", disse.

Usar o sex appeal pode ser arriscado para uma mulher.

Kraviz, DJ russa que vive em Berlim, envolveu-se em uma polêmica no início deste ano, quando deu parte de uma entrevista em vídeo para o site techno Resident Advisor tomando um banho de espuma.

Kraviz, que era dentista antes de se tornar DJ, disse: "Eu estava apenas sendo eu mesma na banheira, para que ficasse mais real".

Moudaber, a DJ nascida na Nigéria que diz ter 36 anos, promoveu festas em Beirute antes de se mudar para Londres e se tornar DJ. Na época, o antigo artista techno Carl Cox listou Moudaber como a DJ menos valorizada de 2009.

"Para ser franca, tudo cabe às mulheres", disse Moudaber. "Se quiserem fazer isso, façam. Ninguém as obriga a não fazer."

Uma DJ mulher pode atrair frequentadoras para os clubes.

"Estou vendo muitas garotas na minha pista", disse Moudaber. "Provavelmente elas vêm porque se identificam comigo. Enquanto, no passado, talvez nem pensassem em ir a uma noite techno."


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