Folha de S. Paulo


Walt Disney bebe e fala palavrão em longa com Tom Hanks

No ainda inédito "Saving Mr. Banks", um drama cômico sobre o turbulento processo de criação de "Mary Poppins" nos anos 1960, Walt Disney age de maneira que parece pouco própria da Disney. Toma uísque escocês em quantidade, fala um palavrão leve e respira com chiado, porque fuma demais.

O que surpreende é quem fez o filme: o estúdio Walt Disney. Com Tom Hanks no papel do fundador da companhia e Emma Thompson como a escritora ranzinza P. L. Travers, "Saving Mr. Banks" é um filme pequeno que custou menos de US$ 35 milhões (R$ 78 milhões) para ser feito.

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Mas sua existência revela algo grande sobre a Disney: apesar de sua reputação merecida por administrar rigidamente sua própria imagem, o estúdio é capaz de abrir mão do controle e deixar as rédeas nas mãos dos cineastas.

Divulgação
Foto de Tom Hanks como Walt Disney, feita por uma fã e publicada no Instagram
Foto de Tom Hanks como Walt Disney, feita por uma fã e publicada no Instagram

"Uau, esta não é a batalha que eu previ", comentou Alison Owen, a produtora independente responsável pelo filme, que ironiza o entretenimento às vezes água com açúcar da Disney. "O comportamento deles foi impecável."

Todo estúdio é controlador, mas a Disney, com suas imensas divisões de parques e produtos, possui em Hollywood a reputação de adotar uma abordagem focada e sinérgica na criação de filmes.

Nos últimos anos, o estúdio atraiu roteiristas e diretores importantes de filmes "live-action" [com atores, não são animações], mas alguns deles ainda excluem de antemão a possibilidade de trabalhar com a empresa.

Os envolvidos em "Saving Mr. Banks" estavam nervosos, mesmo depois de o roteiro ter sido aceito pela Disney. A empresa tentaria converter o filme em uma espécie de vídeo corporativo?

LIBERDADE CRIATIVA

"Tive um pouco de medo, porque queríamos ser honestos em relação a Walt", diz o diretor, John Lee Hancock ("Um Sonho Possível").

"Imaginei o momento em que a Disney diria 'lamentamos, mas preferimos vê-lo como um deus, não um humano'. Mas entenderam que um Walt humano não apenas é um personagem mais convincente, como é alguém de quem é mais fácil gostar."

"Saving Mr. Banks" só chega aos cinemas americanos em 13 de dezembro. Já no Brasil, o filme está previsto para fevereiro de 2014.

O longa às vezes ironiza o estilo da empresa. "Não vou deixar que Mary Poppins seja convertida em uma de suas animações tolas", diz a personagem de Emma Thompson.

Em uma cena que vem arrancando gargalhadas dos espectadores nas pré-estreias, essa personagem chega ao hotel para reuniões com Walt Disney e encontra seu quarto cheio de balões, brinquedos e pipoca caramelada.

Empurrando um Mickey de pelúcia para o canto, ela resmunga: "Fique aí até aprender a arte da sutileza".

A vida imitou a arte no ano passado, quando Emma Thompson chegou para filmar e descobriu que a Disney tinha feito a mesma coisa na suíte de hotel dela. "Acredite se quiser", diz o produtor Sean Bailey, "a Disney tem senso de humor."

Tradução de Clara Allain


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