"Papai, eu tô telefonando pra contar que fomos barrados na Disneylândia!", diz o trecho da música de Baby do Brasil e Pepeu Gomes, sucesso de 1984. Na época, os músicos foram impedidos de entrar por usarem cabelos coloridos e roupas "esquisitas".
Conhecido por uma vigilância feroz contra tudo que não se enquadre nos padrões do "lugar mais feliz do planeta", como se autodenomina, a Disney, desta vez, não conseguiu deixar o "inimigo" do lado de fora dos portões.
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De posse de 20 passes de acesso para a equipe, o cineasta americano Randy Moore realizou o impensável: penetrou nos parques de Orlando (Flórida) e Anaheim (Califórnia) e rodou sem autorização, e sem atrair a atenção dos seguranças, o filme "Escape from Tomorrow" (Fuga do Amanhã), lançado nos Estados Unidos em 11/10.
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Imagem do filme 'Escape from Tomorrow', gravado na Disney |
O filme é um terror psicológico sobre um pai de família que, em férias na Disney com a família, contrai um vírus que o coloca em um estado de paranoia total.
Ele passa a sentir desejos carnais por duas turistas francesas menores de idade e quer explodir a esfera geodésica que é símbolo do Epcot Center. "O nível de ansiedade era alto no primeiro dia de filmagens", explica Moore, que jamais cogitou em pedir autorização para a Disney.
AVENTURA NO PARQUE
Armados com duas câmeras que captam o máximo de luz natural sem que sejam necessários equipamentos de iluminação, Moore e técnicos se misturaram aos turistas para acompanhar os atores, que tinham suas falas e pontuações de cena já decoradas.
Susto somente no último dia: um dos seguranças da Disney interpelou as atrizes, perguntando se elas eram famosas, uma vez que pareciam estar sendo seguidas por paparazzi com câmeras.
A atriz mirim pediu para ir ao banheiro e o guarda consentiu que ela fosse acompanhada da "mãe", desde que se reportassem a eles novamente na saída. "Quando deixaram o banheiro, estava na hora da Parada da Disney, e elas conseguiram fugir dos guardas", conta Moore.
Como o filme foi rodado como uma sinistra alegoria em preto e branco, Moore foi classificado por críticos como um discípulo de David Lynch e George Lucas. Outros acharam a produção capenga.
O filme é mais uma ideia esperta à la "Bruxa de Blair" do que trabalho de qualidade. Moore quis discutir sua relação de amor e ódio com os parques da Disney.
"Na primeira vez, você acha tudo maravilhoso. Depois, acha um pouco falso. Mais tarde, é chato, e você fica irritado até achar tudo demente."
Procurada pela reportagem, a Disney não respondeu ao pedido de entrevista. A empresa, conhecida pelo alto volume de ações na área de direitos autorais, não processou os realizadores do filme.
A alemã Siemens, que patrocina a atração Espaçonave Terra, do Epcot Center, e é citada no filme, também não fez e evitou que o filme ganhasse mais evidência.
Nos Estados Unidos, a pequena distribuidora Cinetic Media promoveu um lançamento multiplataforma: além de 30 salas de cinema, o filme foi disponibilizado em vídeo sob demanda e downloads. Ainda não há data de estreia prevista no Brasil.