Folha de S. Paulo


Morrissey, ex-Smiths, lança autobiografia e bate recorde de vendas na Inglaterra

O caso de amor dos britânicos com Steven Patrick Morrissey parece não ter fim.

Mais de 31 anos depois de a banda de Morrissey, The Smiths, lançar seu compacto de estreia, "Hand in Glove", o cantor de 54 anos ainda é capaz de provocar cenas explícitas de fanatismo.

Análise: Livro de Morrissey é fascinante até a fama, depois se torna chato e mesquinho

Semana passada, admiradores madrugaram nas livrarias inglesas para comprar o primeiro livro de Morrissey, "Autobiography".

30.dez.95/Folhapress
O cantor inglês Morrissey, ex-líder da banda The Smiths
O cantor inglês Morrissey, ex-líder da banda The Smiths

Resultado: quase 35 mil cópias vendidas em uma semana, batendo o recorde britânico para autobiografias musicais, que era de Keith Richards ("Vida"), com 28 mil.

Segundo o jornal "The Guardian", "Autobiography" é o segundo livro de memórias mais vendido na semana de lançamento na Inglaterra desde que a lista começou a ser compilada, em 1998 (o primeiro é de Kate McCann, mãe da menina desaparecida em Portugal, em 2007).

O lançamento de "Autobiography" teve todas as marcas da personalidade de seu autor: mistério, muito drama e uma boa dose de arrogância.

Pouco se falou sobre o livro antes do lançamento.

Tanto a editora, a Penguin, quanto o próprio Morrissey não deram maiores informações à imprensa. E muita gente estranhou o fato de o livro ter saído com o selo "Penguin Classics", uma coleção reservada a autores clássicos como Dante, Henry James, Dostoiévski e John Steinbeck.

O fato de a Penguin ter cedido à exigência do cantor e lançado seu livro de estreia em uma coleção reservada a obras-primas da literatura causou polêmica. O jornal "The Independent" afirmou: "O narcisismo tedioso do livro pode prejudicar o nome de Morrissey um pouco, mas arruína o de sua editora".

Ao ler "Autobiography", fica evidente que Morrissey não quis fazer nenhuma concessão comercial ou "jornalística". O livro não tem índice ou divisão por capítulos. Quem quiser alguma história sobre o guitarrista Johnny Marr, parceiro nos Smiths, terá de procurar página a página.

O cantor/autor surpreendeu também com as exigências para lançamentos em outros países: além dos lances em dinheiro, as editoras interessadas devem escrever "cartas de amor" para Morrissey, que supostamente serão lidas por ele e terão peso na decisão de quem leva o livro.

E o único comentário de Morrissey sobre a repercussão do livro foi um texto curto publicado em um site de fãs, em que o cantor fala sobre um trecho que relata um relacionamento com outro homem. "Infelizmente, não sou homossexual, sou humanossexual, atraído por seres humanos. Mas não muitos."

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Confira algumas histórias contadas por Morrissey

Morrissey conta que quase matou a mãe durante o parto: "Minha cabeça era grande demais". E revela que a irmã, Jackie, tentou matá-lo quatro vezes quando ambos eram pequenos.

Morrissey admite ter inveja da verve ácida de Chrissie Hynde, cantora do Pretenders: "Chrissie tem a capacidade de fazer as pessoas gargalharem no funeral de trigêmeos".

Um dos shows mais emocionantes do cantor foi em São Paulo. O público ergueu uma menina no palco. Morrissey se aproximou da fã e percebeu que ela era cega: "Ela me deu um bilhete que dizia: 'Eu não posso te ver, mas te amo'".

Assim que lançou seu primeiro disco solo, "Viva Hate" (1988), Morrissey recebeu a visita de Michael Stipe, do REM: "Quando ouvi 'Everyday is Like Sunday' fiquei com muita inveja de você", disse Stipe.


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