Folha de S. Paulo


Publicação digital recupera obra do autor teatral Jorge Andrade

A popularidade de Jorge Andrade (1922-1984) não sobreviveu ao tempo --apesar de o autor ser reconhecido como renovador do teatro brasileiro moderno e de sua obra render, entre críticos e teóricos, comparações com a de Nelson Rodrigues, pelo aspecto universal dos enredos.

"Eu e meus irmãos percebemos que, embora Jorge Andrade seja considerado de enorme importância no meio acadêmico, ele se tornou pouco conhecido fora dele", diz Blandina Franco, filha caçula do autor, que aposta na acessibilidade da publicação digital para resgatar a popularidade do pai.

A obra completa de Jorge Andrade será disponibilizada em formato e-book a partir da segunda semana de novembro, no site da Amazon (amazon.com.br).

Lenise Pinheiro/Folhapress
Os atores Augusto Zacchi e Rosa Grobman em cena da peça
Os atores Augusto Zacchi e Rosa Grobman em cena da peça "A Moratória", de Jorge Andrade

Realizado pela editora Descaminhos, o lançamento se inicia com os escritos de palco do autor, 20 peças no total (cada texto custa R$ 9,90).

Estão previstas cinco peças inéditas, uma delas inacabada ("Sesmaria do Rosário").

Além disso, será a primeira vez que o leitor poderá comprar separadamente os textos contidos na publicação mais conhecida de Jorge Andrade, "Marta, a Árvore e o Relógio" --ciclo de dez peças em que o autor repassa a história do homem brasileiro ao longo dos séculos: desde o ciclo do ouro até a modernização das cidades. As peças serão acompanhadas por prefácios críticos compostos por Sérgio de Carvalho, João Roberto Faria, entre outros.

Antunes filho, por exemplo, responsável por duas montagens da peça "Vereda da Salvação" (em 1964 e 1993), destaca em seu texto o poder de composição de personagens de Andrade.
Até 2015 serão publicadas a autobiografa "O Labirinto" (1978), as telenovelas e as reportagens de Jorge Andrade. Estas últimas divididas em dois blocos: o das crônicas escritas para a Folha na década de 1970 e o das reportagens compostas para a lendária revista "Realidade".

INVESTIGAÇÃO SOCIAL

Eduardo Tolentino, que já encenou três obras de Jorge Andrade (além de "A Moratória", em cartaz até amanhã, "Rasto Atrás" e "O Telescópio"), considera Andrade um dos dramaturgos "que mais representam São Paulo em suas contradições entre um mundo arcaico e moderno, rural e urbano, patriarcal e matriarcal".

Para Beth Azevedo, professora de teatro brasileiro da ECA e organizadora da publicação digital, o autor contribuiu para a renovação teatral brasileira.

"Ao retratar a crise do café, ele trouxe ao palco do país uma nova temática. Revelou um novo mundo de tradições e conflitos, sob uma nova forma, trabalhando aspectos épicos como deslocamentos de tempo e espaço muito pouco comuns na época", afirma.


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