Folha de S. Paulo


Clarice Lispector faz bate-papo pop no 'Fantástico'

Abrindo caminho entre competições de quem perde mais gordura e outras atrações do gênero, eis que surge Clarice Lispector na tela do "Fantástico".

Amanhã, e nos sete domingos seguintes, o programa global exibe uma série de oito episódios de dez minutos inspirados em crônicas da maior escritora brasileira.

Será uma Clarice quase desconhecida, mesmo para os (e as) clariçólogos (as) mais lispectors.

Leandro Pagliaro/Divulgação/TV Globo
A atriz Alessandra Maestrini em cena da série 'Correio Feminino'
A atriz Alessandra Maestrini em cena da série 'Correio Feminino'

"Correio Feminino", nome da série dirigida por Luiz Fernando Carvalho, toma como base textos que a brasileira nascida na Ucrânia (1920-1977) fez sob três pseudônimos, nos anos 1950 e 1960.

Em comum, as crônicas assinadas por Helen Palmer, Teresa Quadros e Ilka Soares (a atriz, de quem Lispector foi ghost writer) tinham o tema central: o universo feminino.

A série de TV, estrelada por Maria Fernanda Cândido (a narradora das histórias) e pelo trio Cintia Dicker, Alessandra Maestrini e Luiza Brunet (as personagens), trata de assuntos como sedução feminina, como manter o casamento e como ser uma boa mãe.

"Correio Feminino" preserva o caráter de "almanaque" dos originais, textos breves que propunham um bate-papo da autora com a leitora.

"Não aceito a condenação de alguns, que, para derrubar os almanaques em relação a seus grandes romances, não os enxergam como produção digna da obra de Clarice", expressa Luiz Fernando Carvalho, que já adaptou para a TV e cinema obras de autores como Machado de Assis e Raduan Nassar. "Clarice está em tudo, em um jogo quase metalinguístico."

Carvalho diz que seu maior desafio foi o de não aceitar o estigma de "subliteratura" que por vezes é atribuído a esse tipo de texto "mais leve" e buscar neles o "rigor e delicadeza ao falar de coisas aparentemente tão triviais".

A costura das crônicas, no original bem fragmentadas, em episódios monotemáticos foi feita com a escritora e roteirista Maria Camargo.

Ela evoca uma crônica de Clarice na qual esta diz que "usa as palavras como iscas para pescar as 'não palavras'" para explicar seu trabalho. "Quis usar a palavra para pescar as imagens que poderiam vir daí."

A "pescaria" trouxe ao ar uma linguagem visual ao mesmo tempo pop, cheia de cores, mas clean; com elementos dos anos 1950, mas sem uma linguagem "retrô". Carvalho, que teve o apoio do designer gráfico Carlos Bêla na concepção visual, diz que se inspirou nos anúncios de revistas femininas da época.

E as "dicas" a uma mulher dos anos 1960 valem para a mulher de 2013? "Sim, é apenas um papo. E um papo pop, no sentido de uma cumplicidade entre amigas. Não seria diferente do que acontece em sites e blogs de hoje: modernos, mas com sentimento."

NA TV
"Correio Feminino"
Estreia de série
Amanhã, 21h, Globo


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