Folha de S. Paulo


Prêmio Jabuti desclassifica livro de contos de Sérgio Sant'Anna

O conselho curador do Prêmio Jabuti decidiu, na manhã desta sexta-feira (18), desclassificar o livro "Páginas sem Glória" (Companhia das Letras), de Sérgio Sant'Anna, anunciado ontem como o vencedor na categoria contos e crônicas da tradicional premiação literária.

A decisão ocorreu após o questionamento de um editor, que lembrou que a obra inclui um conto, "Entre Linhas", publicado originalmente na antologia "A Literatura Latino-Americana do Século 21" (Aeroplano, 2005), organizada por Beatriz Resende. Pelas regras da premiação, podem concorrer ao prêmio somente antologias compostas integralmente por textos inéditos publicados no Brasil.

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Com a desclassificação, o livro "Diálogos Impossíveis" (Objetiva), de Luiz Fernando Verissimo, assume o primeiro lugar na categoria. O livro inclui textos publicados anteriormente na imprensa, mas a regra do Jabuti considera, no quesito ineditismo, apenas textos publicados em obras "às quais tenham sido atribuídos ISBN e ficha catalográfica", o que não é o caso da publicação em jornal.

O volume "Aquela Água Toda" (Cosac Naify), de João Anzanello Carrascoza, passou da terceira para a segunda colocação, e "Cheiro de Chocolate e Outras Histórias" (Nova Alexandria), de Roniwalter Jatobá, assumiu o terceiro lugar.

Apenas o primeiro colocado recebe R$ 3.500 e pode concorrer ao grande prêmio de livro do ano de ficção, no valor de R$ 35 mil. O segundo e o terceiro colocado recebem troféus.

DESCLASSIFICAÇÕES

Três obras finalistas do Prêmio Jabuti já haviam sido desclassificadas em setembro por não estarem de acordo com o regulamento.

Duas delas, o livro infantil "A Pedra na Praça" (Rovelle), de Ana Sofia e Tatiana Mariz, e a tradução de Henryk Siewierski para "Ficção Completa - Bruno Schulz" (Cosac Naify), também foram eliminadas pela questão do ineditismo. O primeiro tinha adaptações de contos de Tolstói, enquanto o segundo já havia sido parcialmente publicado.

A outra desclassificação aconteceu com a tradução de Mamede Mustafa Jarouche para o "Livro das Mil e Uma Noites - Vol. 4" (Globo), devido ao item do regulamento que determina que, "no caso de traduções, quando houver vários volumes, será considerada a data do último publicado, desde que nenhum dos demais volumes tenha sido inscrito em edições anteriores do Prêmio".

JURADO 'C'

Em 2012, uma outra polêmica envolvendo o Prêmio Jabuti veio à tona quando o jurado "C" (revelado pela Folha como sendo o crítico Rodrigo Gurgel) da premiação mudou sua avaliação dos mesmos livros em diferentes fases da premiação.

Para impor seus votos, Gurgel deu, na segunda fase do prêmio, notas zero a livros que ele mesmo tinha avaliado bem na fase inicial, caso de "Mano, a Noite Está Velha", de Wilson Bueno.

Na apuração dos votos que deram vitória na categoria romance a "Nihonjin", do iniciante Oscar Nakasato, descobriu-se que favoritos receberam do jurado "C" notas muito baixas, como 0 e 1,5, numa escala de 0 a 10. Assim, ele favoreceu Nakasato em detrimento de nomes já consagrados, como Ana Maria Machado, que concorria com "Infâmia".

Em texto publicado na Folha, Gurgel explicou suas motivações para a votação dizendo que "Nihonjin" transformava "dramas individuais ou familiares em sínteses dos conflitos humanos", enquanto o livro de Ana Maria Machado "desprezava a narração de uma história" para "comprovar as teses da autora".


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