Folha de S. Paulo


Dramaturgos usam letras de artistas do Procure Saber em texto sobre biografias

Os dramaturgos Fábio Brandi Torres, Isser Korik e Mário Viana fizeram um texto sobre a polêmica das biografias não autorizadas com letras de músicas de artistas do grupo Procure Saber.

Associação formada por Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Djavan, Milton Nascimento e Erasmo Carlos, o Procure Saber se manifestou a favor da exigência de autorização prévia para a publicação de biografias e defende também pagamento a biografados ou seus herdeiros.

Atualmente, dois artigos do Código Civil estabelecem a necessidade de autorização prévia por parte do biografado ou seus herdeiros, procedimento que dá margem à proibição da comercialização de obras desse tipo no Brasil. Editores e escritores reagiram à posição do Procure Saber, dizendo que a autorização prévia para as biografias é uma espécie de censura.

Leia abaixo o texto dos dramaturgos.

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"Eu só queria um dia frio, um bom lugar pra ler um livro, mas você reclamou que ele contava detalhes tão pequenos da vida, minha vida, olha o que é que eu fiz, e logo descobri que seria uma página infeliz da nossa história. Antes você dizia que é proibido proibir, mas de perto ninguém é normal, e eis que agora você declara:

- Alegria, Alegria! Uma vera gata, das que não tem dúvida, apareceu. Essa tigresa me falou que o mal é bom e o bem cruel. E aí, princesa, surpresa, você me arrasou. Serpente, nem sente que me envenenou.

Agora, eu não consigo entender sua lógica de cuspir chicletes do ódio no esgoto exposto. Se todo quadro negro é todo negro eu escrevo seu nome nele pra demonstrar o meu apego e não deixo de querer conquistar uma coisa qualquer em você. Mas de nada adiantam as súplicas.

Se eu só lhe fizesse o bem, talvez fosse um vício a mais. Você pensa que eu tenho tudo e vazio me deixa, catando a poesia que entornas no chão. Faço no tempo soar minha sílaba, enquanto você exerce seus podres poderes. O que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta. Afasta de mim esse cálice, porque amanhã vai ser outro dia e nenhuma força virá me fazer calar, afinal, eu sou terrível. E onde queres dinheiro, sou paixão.

É preciso estar atento e forte, porque você pode tomar café com Suíta, ou mesmo uma Coca-Cola enquanto ela pensa em casamento, você pode dizer que a Warner gravou e a Globo vai passar, você pode mandar aquele abraço para o Velho Guerreiro, mas se eu quiser caetanear o que há de bom, só com a força da grana que ergue e destrói coisas belas.

Largue esta estúpida retórica de homem velho que contava dinheiro e volte a ser um campeão da canção, um ídolo, um pateta, um mito da multidão. Porque uns dizem sim e não há outros. Ou não?"


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