Folha de S. Paulo


Cantora neozelandesa Lorde surpreende aos 16

O que faz "Royals", da compositora neozelandesa Lorde, nas paradas americanas junto a "Wrecking Ball", de Miley Cyrus, e "Roar", de Katy Perry? Acima de tudo, mostra que os ouvintes do pop não precisam se contentar com clichês.

Perry e Cyrus cantam sobre algo que se supõe que as adolescentes tenham na cabeça: o que resta da autoestima após um rompimento amoroso. Já Lorde canta sobre a consciência de classe e a onipresença do consumo --a disparidade entre as fantasias da cultura pop, com Cadillacs e diamantes, e a realidade de ser alguém que "não nasceu endinheirada". É uma canção pensativa, calmamente insubordinada, composta por uma adolescente de verdade. Fora dos palcos, Lorde é Ella Yelich-O'Connor, 16.

Ela é uma moça meditativa, até sombria. Num show em setembro em Nova York, ela usava um recatado vestido preto e estava acompanhada por um baterista, um tecladista e por faixas pré-gravadas com sua voz em várias camadas. Suas músicas são igualmente austeras: as partes com teclado costumam ser esparsas, com uma linha de baixo e um ou dois acordes, e uma percussão discreta.

Reprodução/Facebook/Lorde
A cantora neozelandesa Lorde, que tem 16 anos
A cantora neozelandesa Lorde, que tem 16 anos

Nada escondia a voz de Lorde, baixa e cheia de respirações, às vezes melancólica, às vezes resoluta. Ela se mexia acompanhando o ritmo, mas como uma adolescente, não como uma atriz de videoclipe.

Lorde não estava fingindo ser um ídolo pop sobre-humano, e sua canção de abertura, "Bravado", confessava uma batalha entre a timidez e a aspiração a participar do showbiz. "Aprendi a não querer/ O silêncio do quarto, sem ninguém ao redor para me achar/ Quero o aplauso, a aprovação, as coisas que me motivam."

Embora seu álbum de estreia, "Pure Heroine", tenha acabado de ser lançado, Lorde não é exatamente uma sensação instantânea. Ela começou a compor aos 12 anos, quando foi contratada pela Universal depois de ser descoberta em um concurso de calouros. Depois de se juntar ao compositor e produtor Joel Little, ela discretamente lançou "Royals" em novembro, como parte de um EP on-line com cinco faixas, embora o lançamento oficial tenha ficado para o primeiro semestre de 2013. Sua popularidade cresceu como uma bola de neve.

As canções de Lorde são um pop lúcido, claramente delineado nos moldes atuais: hinos, baladas com influências do hip-hop e batidas dançantes. Ela aprendeu com Beyoncé a passar dos versos articulados e com tempo dobrado para refrões enxutos. E aprendeu com Björk o poder de uma voz encantadora contraposta à eletrônica insensível.

Lorde escreve, sim, sobre preocupações adolescentes: combater as panelinhas, em "White Teeth Teens", desejar companhia, em "400 Lux", as tentações de beber e brigar, em "Glory and Gore", e os sonhos de refúgio, em "Buzzcut Season". Mas ela está a um mundo de distância do pop adolescente genérico, cheio de mimimi e de paquera. Ela é séria -tão séria que corre o risco de ser monocromática.

O som da guitarra na última canção do seu show, "A World Alone", foi um vislumbre das possibilidades que existem além da paleta deliberadamente restrita de teclados, batidas e sons eletrônicos.

Lorde é --com seus músicos discretos-- uma categoria à parte, encontrando seu caminho em um espaço que está criando para si.


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