Folha de S. Paulo


Escritor Tao Lin ganha status de porta-voz da geração digital com nova obra

Tao Lin comporta-se como um iconoclasta desde a sua estreia em 2006, com o livro de poesia "you are a little bit happier than i am" (Action Books, 2006).

Lin ganhou intensa publicidade quatro anos depois, ao satirizar uma capa da revista "Time" sobre Jonathan Franzen, classificado de "grande romancista americano". Ele escreveu um perfil de si mesmo para o semanário "The Stranger", em que ressaltou a ideia de que nenhum escritor merece reverência.

Recentemente, Lin publicou "Taipei", seu sétimo livro e o primeiro por uma editora que não é independente. Lançado pela Vintage, do grupo editorial Random House --o maior do mundo--, o romance foi debatido em publicações voltadas para leitores diversos, do "Financial Times" à Vice.

"Taipei", sua obra mais autobiográfica, narra a trajetória de Paul dos 26 aos 28 anos, um indivíduo solitário que mora em Williamsburg, região do Brooklyn considerada a meca dos hipsters. O protagonista passa horas a fio diante da tela de um MacBook, enquanto faz visitas obsessivas ao Twitter, Tumblr, Facebook, Gmail.

Noah Kalina/Divulgação
O escritor chinês Tao Lin, 30, que lançou a obra 'Taipei
O escritor chinês Tao Lin, 30, que lançou a obra 'Taipei'

Os críticos elegeram Lin a voz dos jovens de 20 e poucos anos crescidos com as mídias sociais. "Taipei" transformou o seu autor "no prosador mais interessante da sua geração", segundo o escritor Bret Easton Ellis.

"Esta não é a minha estreia no cânone", diz Lin, 30. Ele reclama que as avaliações sobre "Taipei" revelam mais as crenças dos resenhistas do que o conteúdo do romance. "Meu livro com frequência é totalmente ignorado", afirma. "Quem o comenta está expondo a sua visão sobre a minha personalidade ou abstrações como 'jovens' e 'indivíduos depressivos'".

Lin rejeita ser entronizado como representante geracional apenas porque é novo e tem um grupo ardente de seguidores. Em entrevista à Folha, sugere que gostaria de ser associado não a uma geração, mas a uma tradição literária com raízes nas obras de Ernest Hemingway, Knut Hamsun e Robert Musil.

Lin cita os escritores Ann Beattie, Frederick Barthelme e Joy Williams como influências principais. Sente-se à vontade entre os ficcionistas do Kmart realism, termo cunhado nos anos 1980 para definir uma ficção minimalista focada na desintegração da esfera pública em favor da dominação da vida privada pelo consumismo.

"Imagino por que um editor, vendo que as críticas ao meu trabalho começam com dois parágrafos sobre a minha vida, não pergunta ao resenhista: 'Você pode se ater ao livro'?". Lin, porém, entende a atitude. "Se o editor espera aumentar a audiência da sua publicação, a resenha precisa abordar a privacidade do escritor."

Lin fala abertamente sobre as drogas que consome. Ele foi detido em 2008 por furtar um fone de ouvido de uma loja da New York University, onde estudou jornalismo. Parte da sua renda vinha do roubo de produtos como pilhas, depois vendidos no eBay.

Ao escrever "Taipei", ele tomou até 120 miligramas de Adderall, um estimulante, para manter-se acordado por 36 horas. É o mesmo, entre outros remédios, usado por Paul, o protagonista, definido pela crítica como alienado de tudo, menos das drogas e da tecnologia.

O personagem sai do Brooklyn, passa por Las Vegas e Canadá antes de chegar a Taiwan, a terra natal dos pais de Lin.

Segundo o escritor, o amadurecimento de Paul foi confundido com alienação. "Paul se acostumou com o próprio desespero. Ele tenta viver com o tempo uma existência mais calma e satisfatória."


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