Folha de S. Paulo


Ruy Castro diz em Frankfurt que grupo Procure Saber faz campanha pela censura

Em debate na Feira do Livro de Frankfurt, nesta sexta (11/10), o escritor e colunista da Folha Ruy Castro, um dos maiores críticos aos empecilhos para a publicação de biografias no Brasil, mostrou preocupação com a influência do grupo Procure Saber, capitaneado pela empresária Paula Lavigne e composto por nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque e Djavan.

"É lamentável o que esse grupo está fazendo, essa campanha antidemocrática pela censura. E pode render frutos, porque eles têm poder, vão ao Congresso, dão autógrafos a deputados. Tudo para que ninguém fale da perna mecânica do Roberto Carlos ou de outros defeitos que nem sei quais sei quais são", disse, referindo-se ao acidente que levou o cantor a perder parte de uma perna na infância e que hoje virou tema proibido para quem quer abordar sua história.

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Castro destacou que, quando se fala em autorização para a publicação de biografias, não se trata apenas de ter o "ok" dos artistas. "Isso significa que, se receber uma autorização, vou levar cinco anos pesquisando, escrever e submeter ao biografado, que então vai cortar tudo o que não lhe agrada. Isso é biografia autorizada, outro nome para censura prévia", disse.

Sobre a proposta do Procure Saber de que os biografados recebam parte do faturamento com vendas das biografias, Castro disse, em tom irônico, que, se eles querem "o dízimo", até se dispõe a pagar "o dízimo, desde que isso não interfira na independência".

O biógrafo contou que levou essas questões à ministra da Cultura, Marta Suplicy, na terça, durante café da manhã em Frankfurt com escritores da delegação brasileira do país no maior evento editorial do mundo.

"Era uma unanimidade, todos os escritores contra a censura. Marta disse que ficou contente de falar conosco, porque em geral só tem contato com o outro lado, dos artistas. Porque, como sabemos, eles fazem um lobby pesado", disse.

Segundo ele, a ministra se mostrou "predisposta a concordar" com seus argumentos, embora tenha dito acreditar que os artistas têm razão por querer parte do faturamento dos livros sobre eles --foi quando Castro perguntou a ela se poderia escrever sobre a perna mecânica de Roberto Carlos de pagasse o "dízimo".

O escritor fez ainda uma comparação com os jornais, que têm circulação diária de centenas de milhares de exemplares e não precisam de autorização prévia, enquanto as biografias têm tiragens de 2.000, 3.000 exemplares e se veem limitadas pela lei.


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