Folha de S. Paulo


Artistas e ministra Marta lamentam morte de Norma Bengell; leia repercussão

Leia a seguir a repercussão da morte da atriz e diretora Norma Bengell, ocorrida na madrugada desta quarta (9/10) entre a classe artística brasileira. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, emitiu uma nota de pesar.

Musa e polemista do cinema, Norma Bengell morre aos 78

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"Norma Bengell foi uma das maiores estrelas do cinema mundial. A sequência que ela tem no filme 'Os Cafajestes', de Ruy Guerra, é antológica e ninguém faria como ela. Norma foi uma precursora e teve coragem e dignidade como atriz, dando ao cinema grandeza e liberdade. As atrizes de hoje são muito caretas, não entendem o próprio corpo. O ator precisa ter uma relação espetacular como corpo e a geração de Norma entendia isso. Eu tinha um projeto com ela para fazer a história de Maria Bonita, mas não deu certo e acabamos trabalhando juntos em 'Rio Babilônia'. Éramos muito amigos."
Neville d'Almeida, diretor de "Rio Babilônia"(1982)

"Faz parte daquele pequeno e nobre bando de mulherões que representam o sexo feminino em uma certa hora da humanidade. Todo mundo foi apaixonado pela Norma Bengell. Eu também. Não conheci bem, mas fui apaixonado.
São mulheres como outras poucas, que representam uma forma, um mundo. São tão bonitas, tão charmosas, que é como se o mundo tivesse devido a elas a uma vida melhor.
(...) No caso da Norma, eu tenho certeza que com todas essas dores e dificuldades, com seu sorriso amargo e com sua vida revolucionária, ela foi uma pessoa muito feliz."
Domingos de Oliveira, que dirigiu Norma Bengell em "Edu, Coração de Ouro" (1968)

"Eu tô muito comovido porque não sabia. Eu trabalhei até tarde e me disseram. Eu trabalhei com ela no 'Toma Lá Dá Cá'. Durante o processo, nós ficamos muito amigos. Ela me contava essa história dela, que foi uma atriz que teve uma carreira internacional. Eu lembro de adolescente, ela fazia teatro na França. É uma atriz que divulgou muito a cultura brasileira fora e era uma mulher que responde sobre a liberdade na arte através do filme dela. Ela teve esse legado da liberdade. Eu acho que isso é uma coisa que o artista conquista com muita dificuldade. É uma vencedora. Era uma pessoa diferente, introspectiva, carinhosa. Eu tô olhando uma foto dela no escritório que ela me deu, uma foto que ela se achava linda. Tínhamos um carinho."
Diogo Vilela, que contracenou com a atriz na série "Toma Lá Dá Cá"

"Grande atriz, grande cantora, grande diretora, uma pessoa muito importante para o nosso país (...) A Norma foi ficando... não abandonada, porque muitos amigos continuaram com ela, mas foi se sentindo abandonada, desprotegida, doente. Uma mulher muito talentosa, muito intensa. (...) Não cheguei a trabalhar com a Norma --uma época até ela queria que eu fizesse um filme dela, mas não tivemos agenda para isso. Eu fazia uma peça em 1971 no teatro, 'A Vida Escrachada de Joana Martini e Baby Stompanatto', do Bráulio Pedroso, e havia um momento em que a gente brincava de briga com uma pessoa da plateia, era uma coisa combinada com um ator que estava na plateia. E a Norma estava na plateia nesse dias e acreditou que o ator na plateia estava me desrespeitando. Ela tirou o sapato e jogou nele, pegou ele pelo colarinho e queria bater nele. Depois a gente teve de explicar a ela que aquilo era parte do espetáculo. Ela era muito intensa, não admitia que alguém desrespeitasse um colega."
Marília Pêra, atriz, em depoimento ao canal Globo News

"Eu me lembro da Norma há muito anos, vinda da Itália, toda vestida de prata. Era prata no vestido, no sapato, em joias, irradiava beleza e alegria. Só ela ficava bem de prata. Muitos anos depois nos reencontramos nas gravações de 'Toma Lá, Dá Cá', que ela foi generosamente convidada pelo Miguel Falabella, mas ela não tinha mais condições e tentava exercer o ofício. Hoje ela partiu e libertou seu corpo sofrido."
Arlete Salles, atriz de "Toma Lá, Dá Cá"

"Estou triste. Sempre admirei a coragem de Norma e a ousadia que ela tinha na carreira. Não apenas por ter sido a primeira mulher com nudez frontal no cinema brasileiro, mas depois ter se enveredado na carreira de diretora. Na época em que ela fez 'O Guarani', ela juntou uma turma legal e o cinema brasileiro não tinha tanta força quanto hoje. Foi muito corajosa. Deu para notar que era uma pessoa com muita vontade de enfrentar todas as dificuldades."
Marcio Garcia, ator de "O Guarani" (1997)

"Norma estava sofrendo muito, desejo luz e paz a ela, esteja onde estiver."
Alessandra Maestrini, que contracenou com Norma em "Toma Lá, Dá Cá"

"Lamento a morte da atriz e cineasta Norma Bengell. Uma atriz que sobressaiu por sua ousadia e talento. Além de seus filmes, que se tornaram marcas do cinema nacional, recordo sua coragem enfrentando nas ruas, ao lado de Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara e Ruth Escobar, a censura, a ditadura, e exigindo mais cultura. Merece nossas homenagens por tudo que representou. À família e amigos nosso pesar."
Marta Suplicy, ministra da Cultura

"Fico muito triste com a perda dessa pessoa tão importante para o cinema brasileiro. Norma Bengell foi um dos ícones do Cinema Novo como uma figura de mulher de centros urbanos. Convivi com ela especialmente na filmagem de 'Os Cafajestes', de Ruy Guerra. Tivemos uma excelente relação profissional. Voltei a conviver com ela na época da Embrafilme, quando se faziam tratativas do filme Eternamente Pagu, que ela dirigiu. E, sobretudo, como atriz de 'A idade da Terra', de Glauber Rocha. A última vez que me lembro de ter estado com ela por mais tempo foi justamente na avant-première do filme 'A Idade da Terra', em Salvador, na Bahia, no cinema que se chamava Guarani e tinha passado a se chamar Glauber Rocha."
Celso Amorim, ministro da Defesa, ex-cineasta e ex-diretor da Embrafilme, e que também trabalhou como continuísta em "Os Cafajestes"


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