Folha de S. Paulo


Após ter pedidos ignorados pelo MinC, Paulo Coelho desiste de Frankfurt

Uma relação tensa entre Paulo Coelho e o comitê organizador da participação do Brasil como homenageado na Feira do Livro de Frankfurt, que começa na próxima quarta, culminou com a desistência do escritor de integrar a delegação do país no maior evento editorial do mundo.

O autor de "O Alquimista" foi anunciado em março entre os 70 selecionados pelo Ministério da Cultura (MinC) para representar o país.

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Em entrevista a ser publicada amanhã num dos principais jornais alemães, o "Die Welt", ele diz ter desistido de participar por não aprovar "a forma como o Brasil representa sua literatura".

"Falei com vários de meus colegas que não foram convidados, como Eduardo Spohr, Carolina Munhóz, Thalita Rebouças, André Vianco, Felipe Neto ou Rafael Draccon [...]. Tentei ao máximo conseguir que fossem. Sem sucesso. Então, em protesto, decidi não ir a Frankfurt", disse.

Segundo a Folha apurou, no entanto, o motivo da desistência foi outro. Fontes ligadas ao comitê organizador dizem que Coelho esperava tratamento especial pelo fato de ser o autor brasileiro mais vendido no mundo e fez uma série de exigências que o MinC não atendeu.

Entre outras coisas, queria ficar responsável pelo discurso de abertura --que será realizado por Luiz Ruffato e Ana Maria Machado-- e falar em auditório de mil lugares. Sua agente, Monica Antunes, desmente a informação. "Tínhamos dois auditórios reservados, um da feira e um pago pela [editora alemã] Diogenes no hotel Maritim [em Frankfurt]." O MinC não se pronunciou.

Coelho vai à feira, mas apenas para dar entrevistas a dois canais de TV alemães.

Em 1994, quando o Brasil foi homenageado pela primeira vez na feira, ele ficou fora da lista de 20 nomes levados pelo MinC, que incluía Chico Buarque, Darcy Ribeiro e Ferreira Gullar. Foi extra-oficialmente e virou a maior atração do país no evento.

POP

Na entrevista ao jornal alemão, Coelho disse que "duvida" que todos os 70 convidados sejam escritores, que conhece só 20 dos nomes e que "presumivelmente são amigos de amigos de amigos. Nepotismo". Procurado, não comentou as declarações.

Os autores citados como ausentes por Coelho se dedicam a uma literatura mais comercial, com boas vendas.

"Fenômenos de venda, como Ziraldo, Mauricio de Sousa e outros infantojuvenis, também constam da lista", diz Antonio Martinelli, coordenador da programação brasileira em Frankfurt, destacando ainda a seleção de nomes consagrados, como João Ubaldo Ribeiro e Nélida Piñon, e de novas gerações elogiadas pela crítica, como Luiz Ruffato e Daniel Galera.


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